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Os brasileiros preferem notícias ruins

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Mario Eugenio Saturno

Um estudo recente da Universidade de Michigan, intitulado “Cross-national evidence of a negativity bias in psychophysiological reactions to news” (Evidência internacional de um viés de negatividade nas reações psicofisiológicas às notícias), publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, foi realizado em 17 países, mostrou que as pessoas são mais atraídas por conteúdos negativos do que por conteúdos positivos.
As notícias veiculadas pela mídia de massa fornecem um fluxo de informações entre elites e cidadãos e é um mecanismo importante para democracia. O tom negativo é uma característica que define as notícias, boas notícias, ao contrário, são quase sinônimos da ausência de notícias.
Isso já foi observado pelos estudos científicos sobre a mídia de massa dos Estados Unidos (T. E. Patterson em 1994 e S. J. Farnsworth em 2007), e em estudos sobre conteúdo de mídia e decisões de jornalistas em todo o país (B. Zhong em 2009, R. Vliegenthart em 2011 e G. Lengauer em 2012.
É importante ressaltar que este trabalho sugere que, mesmo que a cobertura noticiosa tenha sido negativa por muitos anos, também tem aumentado nas últimas décadas.
Não são os meios de comunicação de massa que geram as notícias negativas, mas o interesse dos “consumidores” é que demanda por notícias negativas, uma vez que o mercado produzirá notícias alinhadas com os interesses dos consumidores, incluindo a negatividade, conforme observou J. Dunaway em 2013. Mesmo quando as pessoas dizem que querem notícias mais positivas, selecionam sistematicamente mais notícias negativas (J. T. Cacioppo em 1999).
O que explica a preferência aparentemente generalizada por informações negativas? Uma tentativa de explicar está na teoria da evolução. A atenção à negatividade pode ter sido vantajosa para a sobrevivência: alertas para perigos potenciais, para o diagnóstico ou vigilância. Diversos estudos mostram que essa negatividade está presente em todas as populações humanas.
O estudo recente envolveu cerca de 1.156 entrevistados. No Brasil, a amostra diversificada foi feitas em uma sala de reuniões de um hotel em Brasília em 2016. Os entrevistados assistiram sete matérias ordenadas aleatoriamente da BBC World News em um laptop. Todos usavam fones de ouvido com cancelamento de ruído e sensores nos dedos para capturar a condutância da pele e o pulso do volume de sangue. Das matérias apresentadas, duas foram locais: uma positiva sobre uma companhia de balé para bailarinos com deficiência; e uma negativa, sobre um incêndio em uma boate. As cinco restantes foram extraídas de uma amostra de oito histórias, quatro positivas e quatro negativas, todas internacionais.
Em média, os participantes exibiram maior variabilidade da frequência cardíaca e maior condutância da pele durante as notícias negativas. Mas não foi assim em todos os países, alguns apresentaram um viés de negatividade estatisticamente menor, e outros, como o Brasil, Canadá, França, Itália e Suécia apresentaram resposta maior durante o conteúdo de vídeo negativo. De qualquer forma, o Brasil não está mal acompanhado.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do
Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE)
e congregado mariano

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