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Criar, mas com alicerces

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José Renato Nalini

Uma parcela da juventude com discernimento já percebeu que a escola convencional não tem respostas para todos os problemas reais. De que tem valido decorar os coletivos, os afluentes do Amazonas, fazer análise sintática e ignorar as angústias de uma criança que já nasceu nesta ameaçadora era digital?
O olhar inocente da criança e o talento de um adolescente predestinado percebem que a nossa forma de organizar o mundo falhou. Não damos conta das desigualdades, não conseguimos refrear a violência, acabamos com a natureza, colocamos em consistente risco real a sobrevivência da espécie neste sofrido planeta.
Isso explica em parte o repúdio à escola, sobretudo quando o educando adquire a idade da razão. Não soubemos cativá-lo para mostrar que a educação ainda é o melhor caminho. Nossas aulas são chatas. São insossas. Repetem informações superadas. O Google atende melhor à curiosidade juvenil.
Para fazer com que ele retome o amor pelo aprendizado, nada como demonstrar que sua criatividade pode melhorar o mundo. Desenvoltura no inglês é pressuposto. Mas o idioma que mudou o planeta é o da tecnologia. Justamente o setor mais negligenciado pelo sistema educacional brasileiro.
O aluno de hoje se encantará com a robótica, desde os primeiros anos. É com ela que ele aprende a pensar, a desenvolver raciocínio lógico e a trabalhar com criatividade. O lado bom da aparente dependência aos games, aos jogos, ao YouTube, tudo a preocupar pais perplexos, é o de que esse exercício ampliará as oportunidades de seus filhos no futuro.
O mundo precisa de profissionais competentes para criar tecnologia. Esta não é panaceia. É ferramenta, não finalidade. Só consegue criar aquilo de que a humanidade tem urgência, aquele que conseguir conciliar as habilidades cognitivas às competências socioemocionais.
A espécie considerada a única racional precisa de pessoas tecnicamente qualificadas, mas também providas de empatia, de compaixão, de sensibilidade e de talento para respeitar as diferenças e para conviver em harmonia com todas as individualidades.

José Renato Nalini é reitor universitário e presidente da Academia Paulista de Letras (2019-2020)

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