José Renato Nalini
O Brasil, sequioso de lideranças, tem vultos históricos em todas as áreas. Nomes que poderiam suscitar a curiosidade das novas gerações. Estas, presas das redes sociais, tendem a acreditar que tudo começou com a internet. Não é bem assim. Há quanto tempo a Humanidade tropeça neste Planeta que está sendo tão rapidamente destruído?
Um dos brasileiros nunca assaz louvado é Rui Barbosa. O baiano que foi considerado um dos homens mais inteligentes de sua geração, não brilhou apenas em Haia, mas foi Senador, disputou por duas vezes a Presidência da República e não foi eleito.
Quando Ministro da Fazenda no governo Deodoro, recebeu a sugestão de criar um Banco para indenizar os proprietários de escravos lesados com a Abolição. O despacho exarado à petição se tornou célebre: “Mais justa seria e melhor consultaria o sentimento nacional se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravos não onerando o Tesouro. Indeferido, 11.11.1890”.
Quando solicitado a disputar a Presidência da República, para concorrer com o Marechal Hermes da Fonseca, disse-lhe José Marcelino que Rui era “o homem dos sacrifícios”. Ninguém tinha dúvida de que o páreo era mais do que difícil: era impossível. Por isso lhe foi dito: “É uma derrota certa, mas não morreremos no ridículo. É mais um dos seus sacrifícios. Com a bandeira na sua mão, ao menos ela se salvará”.
E Rui decidiu concorrer: “Você tem razão. Eu sou dos sacrifícios. Se fosse para a vitória não me convidariam, nem eu aceitaria, mas como é para a derrota, aceito. A ideia não morrerá pelo meu egoísmo”.
Colocou nas palavras a sua alma de apóstolo: “Perderemos, mas o princípio da resistência civil se salvará. E vencerá!”.
Atirou-se à campanha. Certo de que não venceria. Mas por amor à causa e aos princípios. Movimento civilista que foi uma das páginas honrosas da História do Brasil.
Mas esse homem público era também educador nato. Sua casa, à rua São Clemente, hoje sede da “Fundação Rui Barbosa”, plena de árvores, atraía uma enorme passarada. Uma neta alvitrou-lhe a ideia de formar um viveiro. E o avô, em lição que serve para todas as netas: “Os pássaros nascem livres, para que prendê-los? Haverá coisa mais bela do que a liberdade?”.
José Renato Nalini é reitor universitário e presidente da Academia Paulista de Letras
(2019-2020)