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O hábito

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Humberto Pinho da Silva

É usual ouvir a cada passo: “ F. teve berço”. Ter berço é ter sido educado nas regras da boa etiqueta e civilidade.
É de criança – o mais jovem possível – que começa a educação. Ensina-se não só regras exteriores tais quais: como se comportar, agir, e utilizar as palavras-chaves, que oleiam as relações interpessoais, mas, também, educar a alma, como recomendava Barrés.
Educar é, portanto, incutir bons hábitos.
Somos a sequência de hábitos, que se transformam em costume.
Cria-se o hábito, depois este nos molda física e espiritualmente, esculturando-nos por dentro, subjugando o pensamento. Ficamos servos do hábito.
Controla-se o hábito no início, mas uma vez, enraizado, libertar-se dele é quase humanamente impossível, incrustando-se na personalidade.
Há hábitos bons e hábitos malsãos; e os que nem são uma coisa, nem outra.
Aparecem sutilmente, por imitação de familiares, de amigos e com o convívio na coletividade.
Cortar radicalmente o hábito requer força titânica. Adiá-lo é chegar à ideia fixa.
Para se avaliar a força do hábito, vou contar fábula, atribuída a Esopo:
Uma gatinha, por sortilégio, foi transformada em formosa menina.
Estando à mesa – presumivelmente em casa de aristocrata – ela deslumbra um rato.
Por hábito (instinto?), salta da cadeira e vai em demanda do ratinho.
É que o caráter é formado por hábitos (costume) adquiridos ao longo da vida.
A “menina”, levada pelo hábito, traiu-se, agindo como gatinha que era.
Frei Tomé de Jesus afirma ao abordar o mal dos vícios que são o mal de todos males: “ Porque chamam uns tantos por outros, e abrem tanto caminho uns aos outros, que cada um deles parece que é a fonte de todo o nosso mal.” – “Trabalhos de Jesus”.

Humberto Pinho da Silva é dono do blogue luso-brasileiro: “Paz”

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