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A incompreendida Covid-19

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Mario Eugenio Saturno

Trabalhar em uma instituição de pesquisa tem suas vantagens: o acesso a informações, especialmente as novas pesquisas da Covid-19. E são muitas as pesquisas desmentindo qualquer eficácia da família da cloroquina, coisa que muitos médicos negadores não aceitam… Como se os resultados científicos fossem algo da opinião médica pessoal. Aliás, negar a realidade não é uma doença mental? É de assustar a quantidade de médicos que parece não entender o método de teste duplo-cego, o uso do placebo, etc.
A Covid-19 causou mais de 170 mil mortes, mas muitas pessoas ainda não entendem a gravidade da doença e agem como quando diziam que morreriam “somente” oitocentas pessoas e não seria mais que uma gripezinha. E, mesmo com vacina, devem morrer ainda mais de 130 mil brasileiros, ainda assim sem comover os chamados negacionistas.
Procurando compreender o porquê de a doença matar mais velhos do que jovens e mais homens do que mulheres, eu analisei os dados do Registro Civil dos Cartórios e descobri que isso não é verdadeiro. Eu não sou cientista médico, mas sei matemática, sei metodologia e sei analisar dados. Análise que pode salvar vidas.
De 01/01 a 24/11/2020, entre aqueles com idade entre 20 e 39 anos, vê-se que a Covid ceifou 6.390 vidas, mas entre 70 e 79, foram 41.733 mortos, 6,5 vezes mais mortos. Só que, se observarmos os mortos por todas as causas, dos 20 a 39 anos, morreram 47.108 pessoas, e dos 70 a 79, foram 211.201, uma proporção de 4,5, não muito diferente da observada para a Covid. Ao montar uma tabela com as quantidades de mortos por faixa de idade de dez em dez anos, por todas as causas e por Covid-19 e calcular a relação, descobre-se coisas interessantes.
A primeira é que morreram mais crianças menores que dez anos (25.874) do que dos 10 aos 19 (4.978) e dos 20 aos 29 (16.875), somados. Este último, explica-se por acidentes de veículos e violência, mas o que mata tanto as crianças?
Nas faixas de idade seguintes, vê-se que morrem muito mais velhos do que jovens. Por esta razão, olhar os números de mortes por Covid-19 por faixa sem uma ponderação, uma razão, uma proporção matemática é ser enganado como todos estão sendo e falo de jornalistas, cientistas e pessoas em geral, especialmente os jovens.
A proporção de mortes por Covid em cada faixa, dos 30 aos 89 anos, difere pouco. Das mortes observadas na faixa dos 30 a 39 anos, são 15,9% de Covid, dos 40 a 49, são 17,9%, dos 50 a 59, 18,5%, dos 60 a 69, 20,1%, dos 70 a 79, 19,8% e dos 80 a 89, são 16,9%. E outra coisa interessante, dos 90 a 99 anos, morreram 12,7% de Covid e acima de 100 anos, a proporção cai para 8,5%. De 0 a 9 anos, 2,3%, de 10 a 19, 7,9% e de 20 a 29, 9,4%. Percebe-se que morrem mais adultos jovens que idosos mais velhos.
Comparando as mortes por faixa e por sexo, a planilha mostra que, antes dos 40, proporcionalmente, a Covid mata mais mulheres do que homens, chegando ao dobro na faixa dos 20 aos 29 anos, com 14,5% contra 7,1%. Mais um mito que cai quando analisado corretamente, ou seja, contra o total de mortes por faixa de idade.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

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