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Hienas continuam a gargalhar

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José Renato Nalini

A ironia em torno às hienas é que elas não teriam motivo para sorrir. Entretanto, o som que emitem é muito próximo a uma gargalhada.
As hienas foram lembradas recentemente, não por seu riso, mas por outros atributos que a elas se atribuem. Por isso, falar de hiena está na moda.
A minha pretensão é modesta. Lembrei-me de Sérgio Porto, cujo pseudônimo era Stanislau Ponte Preta. Elaborou o FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assola o País, em tempos duros de autoritarismo. Criativo, original e bem humorado, suas tiradas eram repetidas em tempos áureos, nos quais não existiam os mobiles, nem os memes.
A propaganda era “boca-a-boca” e atingia todo o Brasil. Ele faz falta hoje. Nem sei se teria pique para explorar tudo aquilo que é um jorro permanente fornecido a quem queira ouvir. Copiosa a produção humorística brasileira. Enorme parte dela faz recordar as hienas: Por que rir? Rir de que?
Para que nosso complexo de inferioridade não aflore, é bom saber que Democracias Estáveis como a britânica também exercitam o humor. Mais cáustico do que engraçado. Para Gilles Lapouge, é isso o que permite aos britânicos suportar o ridículo, a monotonia e a inutilidade dessa pobre novela do Brexit. Eles têm os “sketch writers”, que fazem o povo se sacudir de tanto dar risada.
Dentre os exemplos recentes de humorismo praticado na Inglaterra, mencione-se o que os jornalistas do humor pensam de seu Parlamento: “Nós temos um Parlamento de asnos dirigido por tartarugas”.
A única preocupação dessa classe trabalhadora que são os escritores especializados em esquetes, (esquete é algo que no meu tempo de primário e ginásio também existia) é a concorrência desleal. Os políticos assumiram o controle da produção de piadas. “Eles mesmos dão conta disso sem perceber. Seus discursos são tão fracos, vazios e idiotas que os sketch writers não têm nada a acrescentar. Parlamentares e ministros encarregam-se do trabalho todo. Não se pode mais trabalhar nestas condições”.
Há quem sugira mover ação na Justiça por essa competição injusta. Um jornalista resume a questão: “Há alguns anos, os políticos não necessitam mais do humorista para fazer as pessoas rirem. Eles se encarregam disso muito bem”.
No Brasil as coisas são muito diferentes. Há quem sustente que a especialidade de alguns é fazer as pessoas chorarem.

José Renato Nalini é presidente da Academia Paulista de Letras

 

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