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O medíocre primitivismo brasileiro

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José Renato Nalini

A mediocridade é o que vigora no Brasil, num primitivismo tríplice. O diagnóstico é de Roberto Mangabeira Unger, professor da Faculdade de Direito de Harvard, autor do livro “Depois do Colonialismo Mental – Repensar e Reorganizar o Brasil”.
Para esse polêmico pensador, o Brasil é primitivo em três áreas. Na economia, verifica-se a baixíssima produtividade do trabalho. A lavoura, que tem sido a salvação, já não se satisfaz com o “boia fria”, mas precisa de operadores de drones, de programadores de drones, de engenheiros capazes de pilotar, à distância e por computador, as grandes colhedeiras. A indústria foi sucateada e não se recuperará, porque não encarou a robótica, a inteligência artificial, a nanotecnologia, a internet das coisas e outras conquistas científico-tecnológicas da Quarta Revolução Industrial.
Não passamos da condição de emergente, estacionados na retaguarda tecnológica. Não levamos a sério o empreendedorismo, não assumimos o dinamismo e o vanguardismo.
Na política, somos primitivos porque endeusamos os titulares de cargos e funções, esquecendo-nos de que o Estado é instrumento para servir à população e que o eleito é empregado do povo. A rusticidade das gentes se satisfaz com quireras e com tapinhas nas costas.
Mas tudo isso existe porque somos primitivos na educação capenga. Para Mangabeira Unger, “o primitivismo educacional aparece quando vemos que nossa educação continua historicamente vidrada em um dogmatismo doutrinário e em um enciclopedismo raso. É um modelo que briga com os pendores do brasileiro”.
Qualquer pessoa de bom senso constata que nós não educamos. Nós adestramos. Fazemos a criança decorar uma porção de informação disponível na internet e a imbecilizamos, impedindo-a de ser criativa.
O resultado dessa tríade primitivista é a mediocridade nos três níveis: econômico, político e educacional. Mas se investirmos neste eixo da educação, resolveremos, por tabela, os outros dois. Pois “o Brasil é uma grande anarquia criadora. Mas, em vez de burilarmos essa anarquia, tentamos suprimi-la, colocando-a dentro da camisa de força desse ensino retrógrado”.
O remédio já temos: a imaginação. A imaginação criadora, ousada e audaciosa. Mas saberemos toma-lo na dose certa?

José Renato Nalini é presidente da Academia Paulista de Letras

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