José Renato Nalini
Inteligência artificial é algo com que já se convive, queira-se ou não. Ela ajuda a mandar mensagens, adivinhando o que se quer falar. Ela indica os restaurantes mais próximos, quando se quer almoçar. Ela mostra caminhos, fazendo com que o motorista – e até o pedestre – não se perca.
Ela ajuda a identificar potenciais moléstias, ela pode ajudar a localizar os enfermos. O reconhecimento facial foi considerado valioso instrumento para identificação das pessoas e prevenir prática de delitos.
Também saudável o seu uso para verificar se o aluno está prestando atenção à aula on-line. Mas ela poderá servir para outros objetivos: vigiar pessoas, controlar seus passos, fiscalizar suas amizades e diálogos.
Não é interessante que o streaming já saiba aquilo que você gosta de assistir? A partir do “machine learning”, o computador sabe, após examinar um grande conjunto de dados, qual é o padrão que o usuário prefere.
Será que a máquina, um dia, chegará a desvendar nosso pensamento? Não vai ser fácil desmentir o que ela detectou e que pode não agradar as pessoas com as quais nos relacionamos.
O avanço da Inteligência Artificial é considerado um risco existencial, assim como os desastres naturais. Não que ela tenha autonomia para causar o mal, porém é evidente a possibilidade de seu mau uso pelos humanos. O perigo mais próximo é a indústria armamentista, hoje tão prestigiada em alguns círculos. Armas autônomas podem ser uma realidade já existente, embora ainda não disponível para todos.
O financiamento militar para armas inteligentes foi objeto de um artigo da dupla Cave e Dihal: “Esperanças e medos para máquinas inteligentes na ficção e na realidade”. Eles mostram que já existem armas autônomas, aquelas capazes de decidir quando e onde lutar.
O perigo maior seria a criação da superinteligência. Há quem afirme que a Inteligência Artificial é a última invenção humana. A partir dela, e com os recursos de que a inteligência humana a dotou, ela própria criará outras funcionalidades e se desenvolverá, até ao ponto de exterminar a humanidade.
Há um remédio para evitar isso: chama-se ética. Mas alguém, no mundo contemporâneo, leva a ética a sério?
José Renato Nalini é professor, reitor universitário e presidente da Academia Paulista de Letras