Estudo aponta que Vacinômetro de São Paulo pode estar superestimando taxa de munícipes vacinados contra a Covid-19
Levantamento divulgado nesta semana pelo Instituto Pólis aponta que a taxa de cobertura vacinal do município de São Paulo (Capital), divulgada pela Prefeitura em seu Vacinômetro, pode estar superestimada em relação ao número real de paulistanos com o esquema vacinal completo contra a Covid-19. O Instituto Pólis é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) de atuação nacional, cuja principal missão é promover pesquisas, trabalhos de assessoria ou de avaliação de políticas públicas e seu estudo também evidencia que, em regiões onde é maior a situação de vulnerabilidade social, a taxa de vacinação é menor do que a média da cidade.
Apesar de divulgado agora em outubro, o levantamento tem como base o boletim da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade de São Paulo de 20 de setembro de 2021, quando o documento apontava 6.465.432 pessoas na Capital paulista vacinadas com o esquema completo; ou seja, aqueles que receberam a segunda dose, somados aos que foram imunizados com a dose única. Isso representaria uma taxa de cobertura vacinal de 70,05% entre a população residente na cidade com mais de 18 anos de idade (9.230.227 de pessoas, segundo a SMS-SP).
No entanto, o levantamento do Pólis aponta que, das mais de 6 milhões de pessoas imunizadas na Capital, 1.201.522 não residem no município de São Paulo. Dos que efetivamente moram na cidade, 5.509.076 foram imunizados com o esquema completo. A análise do Pólis mostra que a taxa de vacinação completa no município de São Paulo (até 20 de setembro) cai para 59,68% considerando a população de 18 anos de residentes na Capital – diferente dos 70,05% anunciados pela prefeitura.
POLÍTICAS EQUIVOCADAS
No sentido oposto, também há pessoas que têm endereço de residência na Capital, mas que foram imunizadas em outros municípios paulistas. O número total, contudo, é de apenas 490.013 moradores completamente imunizados – um número significativamente inferior ao de pessoas de outras cidades que se vacinaram na Capital paulista. “O fato de residentes de outros municípios estarem se vacinando em São Paulo não é um problema. O SUS [Sistema Único de Saúde] é universal, então é importante que prefeituras, como a da Capital, não recusem a vacinação de pessoas pelo município de residência. Desta forma, a imunização completa da população avança sem restrições na Região Metropolitana como um todo”, aponta Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis.
O que preocupa os especialistas, diante de incongruência apontada, é que o município de São Paulo esteja superestimando sua cobertura vacinal, o que pode levar à adoção equivocada de políticas e protocolos de relaxamento da contenção da pandemia. Essas medidas equivocadas podem proporcionar condições para o aumento do número de casos, internações e óbitos, assim como das condições de reprodução do vírus e surgimento de novas cepas mais infecciosas, como a variante Delta, que já corresponde a 90% dos casos registrados na Capital.
“Consideramos positiva a medida de redução de intervalo entre as doses do imunizante da Pfizer, pois eleva a taxa de pessoas completamente vacinadas. Isso reduz o risco de novo aumento exponencial no número de casos e pressão sobre o sistema de saúde”, comenta Jorge Kayano.
TERRITORIALIDADE
O estudo também identificou que há áreas da cidade de São Paulo que não acompanham a média de vacinados com o esquema de imunização completo divulgado pela Prefeitura. As maiores discrepâncias aparecem em áreas de maior vulnerabilidade, menor padrão de renda e concentração da população negra da Capital, onde também se concentram as maiores taxas de infecções e óbitos por Covid-19.
O alerta das pesquisadoras e pesquisadores aponta que a distribuição vacinal atual pode permitir que os mesmos territórios que já tiveram mais óbitos desde o início da pandemia voltem a sofrer com o recrudescimento de casos, com novas variantes do vírus. “É fundamental construir as estratégias da campanha de vacinação de acordo com os dados territoriais. Do contrário, a vacinação de adolescentes e o reforço em idosos, sem completar a vacinação de quem ainda aguarda a segunda dose, pode reforçar as desigualdades já observadas no processo de imunização”, aponta Kayano.
A superestimação dos dados também gera preocupação em relação à adoção de medidas de controle do acesso da população a eventos e locais mediante comprovante de vacinação. Neste sentido, o “passaporte de vacinação”, como está sendo chamado, pode barrar a entrada de pessoas que não tiveram acesso à imunização devido à falta de uma política efetiva que atenda toda a população paulistana, considera o Instituto.
Como foi divulgado pelo próprio Instituto Pólis, o levantamento teve como base os números de 20 de setembro de 2021. De lá para cá, a Secretaria de Saúde da Capital tem divulgado diariamente seus boletins no Vacinômetro. Segundo os últimos dados, de 20 de outubro, já seriam 8.379.371 pessoas imunizadas com a segunda dose, mais aqueles de dose única. A se valer da mesma base de cálculo, esse número representaria 90,78% dos moradores da Capital acima dos 18 anos imunizados contra a Covid-19.
Por e-mail, a reportagem do jornal Página Zero contatou a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo para consultar se a administração Capital desejaria comentar ou contrapor os números apresentados pelo estudo do Instituto Pólis. Até o fechamento desta edição, na quinta-feira, 21/10, a Secretaria não havia respondido à reportagem.
O estudo completo do Instituto Pólis pode ser acessado pelo link https://polis.org.br/estudos/cobertura-vacinal-na-cidade-sp/.