Thelma Miguel
Que a poesia e a boa música dão arrepios todo o mundo já sabe, mas a ciência vem nos provar como isso acontece.
Com cerca de 4.300 anos, a poesia é uma das primeiras manifestações literárias registradas. Provavelmente já existia anteriormente e sua transmissão era realizada de forma oral pelos povos. O fato é que, com certeza, ela afeta o cognitivo e a emoção das pessoas desde que se tem conhecimento da escrita. A partir desta constatação intuitiva, muitos trabalhos vêm sendo realizados na tentativa de provar como nosso cérebro é afetado pela poesia.
Estudo realizado na Alemanha demonstrou, através de monitoramento de frequência cardíaca, movimentos faciais, eriçamento de pelos e ressonâncias magnéticas cerebrais durante a leitura de poemas, que áreas específicas do cérebro são ativadas com a poesia, algumas delas também estimuladas com a música. Contudo há uma diferença: a música nos arrebata de uma só vez. A poesia nos leva a um relaxamento, provocando uma reação de prazer gradativo e atinge um clímax próximo ao desfecho do poema.
Na Universidade de Exeter foram avaliadas reações cerebrais de voluntários após a leitura de textos diversos: manuais de instrução, fragmentos de romances, sonetos, poemas em geral e até um poema favorito do avaliado. Descobriram que o cérebro processa de forma diversa o texto poético e a prosa, ativando áreas relacionadas ao processamento emocional, mas também áreas do cérebro associadas com a memória, como o córtex cingulado posterior e o lobo temporal médio, áreas que são despertadas quando estamos relaxados ou introspectivos. Ao estimular estas áreas associamos os poemas a nossas vivências e emoções profundas, gerando uma sensação de bem-estar.
O fato de algumas pessoas não serem afetadas tão profundamente pela poesia pode ser explicado por uma insuficiência de exposição durante a infância e adolescência associada a uma abordagem analítica e “engessada” na escola. Uma aproximação da realidade do leitor com a poesia, participação ativa em leituras, discussões, apresentações podem ser mais esclarecedoras e muito mais atrativas. Projetos educacionais com o propósito de espalhar poesia também devem sempre ser estimulados.
Livros de autoajuda e música são frequentemente associados a benefícios à saúde mental, mas, na verdade, um livro de poemas pode nos relaxar e emocionar ainda mais. Então, o que você está esperando para ler um bom livro de poemas hoje?
Thelma Miguel é carioca, médica, mãe, avó e poeta, autora dos livros Sem Casca e
O Silêncio e o Grito