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O quebra-cabeça da esperança

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Rafaela Rodrigues

Há em nós uma necessidade de ocupação constante. Estamos num mundo em que o valor produtivo é o que mais conta, logo, a monotonia soa como ociosidade diante do ritmo frenético em que vivemos. O fato de parar e ter a oportunidade de olhar um pouco para si, de certo modo assusta.
Viktor Frankl em seu livro “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração” conta: “no campo de concentração, encontrei certa vez dois homens que se queixavam de que não esperavam mais nada da vida; eu porém, tentei deixar claro para eles que não se tinha o direito de perguntar o que espero de minha vida, mas, ao contrário, quem ou o que espera por mim – um homem, uma obra, uma pessoa ou uma coisa?”.
E o que nos espera após esta pandemia? É preciso tornar notória a condição atual como um convite a ver além das aparências, ampliando nossa capacidade de dar sentido ao que vivemos, imaginando o que pode haver além deste limitado horizonte que nos cerca.
Neste tempo, também se faz necessário ter cautela, pois se desesperar pode dar vazão à ansiedade, ao medo e à depressão, tomando proporções além do real correspondido – “o desespero é o sofrimento sem propósito” (Viktor Frankl).
O ser humano tem em si a capacidade de aprimorar seu existir. Em estado de calamidade torna-se capaz de dar o devido valor para singelos detalhes que constituem o seu viver, como tomar um café com quem se ama, abraçar quem lhe apraz, estar em um lugar que traduz seu existir.
Muito mais que alimentar a ansiedade e os medos, é preciso alimentar sonhos e esperança, dar chance à parada, ao olhar para si que alimenta o recomeço no mais íntimo da alma.
Vivemos em um tempo líquido, e qual será a nossa postura após este tempo em que vivemos? Quais serão nossas prioridades? Qual a nossa decisão hoje? Criar o oásis da esperança dentro de nós é uma simples oportunidade de redespertar para a vida, para tudo que foi vivido até aqui, e pensar como se quer viver o tempo presente e assim construir e alimentar em si a “determinada decisão” de como se quer caminhar para o futuro a partir daqui.
Nossa vida nesta terra é como um quebra-cabeça, que exige de nós delicadeza e concentração no manejo das peças. Ao olharmos para duas peças que têm seus moldes próprios, é visível que será preciso um olhar atento e paciente para ver se realmente aquela combinação está propícia para um encaixe conjunto. Entretanto, o olhar precisa ser atencioso, bem como a harmonia do toque entre os dedos da mão, exigindo uma extrema delicadeza e concentração no manuseio.
Ao vivermos situações que nos confrontam, temos a tendência do “desespero”, seja numa situação familiar, de fragilidade na saúde, conjugal, profissional, vocacional, institucional ou simplesmente relacional consigo mesmo, com Deus ou com o outro.
A vida nos tira da zona de conforto para descobrirmos em nós a capacidade de flexibilidade e adaptação ao inusitado, e ainda tirar o bem, um aprendizado de cada situação.
As situações serão sempre adversas, não podemos ter controle de tudo, precisamos exercitar a nossa esperança e usar da nossa capacidade racional para atribuir um sentido a cada enfrentamento do nosso cotidiano. “Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos” (Viktor Frankl)
O nosso viver é um constante aprender o manuseio desse quebra-cabeça da esperança, para que nenhuma situação adversa nos roube de quem somos e do que acreditamos, e muito menos para onde pretendemos ir!

Rafaela Rodrigues é missionária da comunidade Canção Nova e psicóloga do Núcleo de Psicologia

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