André Naves
Existem pessoas sem talento que, movidas pela ignorância, arrogância e ambição, tentam chamar atenção fazendo piadas e comentários estranhos que somente reforçam os preconceitos presentes em nossa sociedade.
Ao invés de buscar desenvolver sua veia artística, esse tipo de gente medíocre reforça barreiras limitantes existentes entre nós ao tentar ganhar audiência e dinheiro com comentários detestáveis.
Não quero citar o nome do patético “humorista” demitido de uma emissora de TV, até mesmo para não dar palco para pessoa tão asquerosa, mas vou falar um pouco da hidrocefalia, que é uma doença não contagiosa, tratável e que, com os devidos cuidados e adaptações, permite uma vida normal. Aliás, e isso é importante, a diversidade e a pluralidade na vida social e econômica, na medida em que tornam mais frequentes contatos entre pessoas diferentes, impulsionam a inovação e o progresso social.
Humor não é fazer graça com as deficiências! Pelo contrário. Quem faz piada com a condição dos outros mostra sua completa falta de capacidade e talento. O humor tem uma função social que é sua capacidade de combater, de forma leve e engraçada, todos os tipos de barreiras, obstáculos e limites impostos pelo preconceito. Quando ele nos faz rir dos preconceitos existentes, ele atinge a ignorância e o desconhecimento e ajuda na evolução das pessoas, na medida em que promove a inclusão.
Eu, por exemplo, sofri um gravíssimo acidente de carro há mais de vinte anos. Desde então, como toda a população brasileira menos favorecida, enfrento os mais diferentes obstáculos. Entretanto, atualmente todos nós, pessoas com deficiência, ainda que enfrentemos diferentes barreiras, já somos mais vistos em nossas capacidades e potencialidades do que em nossas dificuldades. Essa evolução social, lenta é verdade, é sensível, e retrocessos não serão admitidos! Não são pessoas sem graça que ganharão importância ofendendo nossos direitos!
Por isso que a educação inclusiva é tão importante. Ela possibilita que as pessoas com deficiência desenvolvam suas potencialidades, e que as pessoas sem deficiência desenvolvam novas visões e atitudes no sentido de eliminar preconceitos e aprender novas ideias.
O verdadeiro humor, aquele que cumpre sua função social e promove a inclusão e o conhecimento ao ridicularizar atitudes preconceituosas, deve estar associado à educação para que o Brasil se desenvolva de maneira sustentável, inclusiva e justa!
André Naves é defensor público federal, especialista em Direitos Humanos e Sociais.
É escritor, professor e palestrante