Prof. Dr. Valmor Bolan
Os avanços tecnológicos no começo do século 21 têm suscitado questionamentos e preocupações sobre os impactos da chamada quarta revolução industrial, tendo em vista a velocidade como as mudanças estão acontecendo. Ninguém sabe ainda como os efeitos da quarta revolução industrial afetarão as pessoas mais pobres, principalmente na questão do trabalho, pois nem todos terão condições de investimentos em equipamentos e tecnologias para a prestação de serviços, e nem todos estarão incluídos nos postos de trabalho, muitos dos quais se tornarão obsoletos ou até mesmo podem desaparecer. Os especialistas falam em uma “perda de cinco milhões de empregos, seguramente serão muito mais”, afirma Silvia Ribeiro, pesquisadora do Grupo ETC, em artigo publicado por La Jornada. E ressalta que “este é apenas um dos impactos desta revolução tecnológica, que não se define por cada uma dessas tecnologias isoladamente, mas pela convergência e sinergia entre elas”.
Há uma variedade de áreas em que estão sendo feitos investimentos nas inovações tecnológicas, como explica Silvia Ribeiro: “Nomeiam entre as 10 tecnologias chaves – e mais disruptivas – a engenharia de sistemas metabólicos para produzir substâncias industriais (leia-se biologia sintética para substituir combustíveis, plásticos, fragrâncias, saborizantes, princípios ativos farmacêuticos derivados de conhecimento indígena); a internet das nanocoisas (além de usar a internet para a produção industrial, agrícola, etc., também nanossensores inseridos em seres vivos, inclusive em nossos corpos, para captar e receber estímulos e a administração de drogas e farmacêuticos); ecossistemas abertos de inteligência artificial (integrar máquinas com inteligência artificial à internet das coisas, às redes sociais e à programação aberta, com potencial de mudar radicalmente a nossa relação com as máquinas e elas entre si) e várias outras, como novos materiais para o armazenamento de energia, nanomateriais ‘bidimensionais’, veículos autônomos e não tripulados (drones de todo tipo com maior autonomia), optogenética (células vivas manipuladas geneticamente que respondem a ondas de luz), produção de órgãos humanos em chips eletrônicos”. Esses são os investimentos feitos e as inovações tecnológicas que tendem a mudanças profundas na sociedade, nos próximos anos.
Diante disso, é necessário que haja uma regulamentação, norteada em princípios bioéticos, para evitar abusos, especialmente o risco de desumanização na relação entre as pessoas. Todas as inovações podem trazer benefícios, mas há preocupações quanto ao uso dessas tecnologias, que cerceiem a liberdade das pessoas, favorecendo arbitrariedades. Por isso o debate em relação ao uso dessas tecnologias deve permitir que elas estejam a favor das pessoas e não venham a ser usadas inclusive politicamente para privá-las de direitos humanos já conquistados.
Este certamente será um debate do século 21, necessário para conciliar tecnologia e valorização do ser humano.
Valmor Bolan é doutor em Sociologia, professor, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. É pós-graduado em Gestão Universitária pela Organização Universitária Interamericana