Novo sistema de agendamento de consultas em Jandira promete dobrar atendimento sem apontar se médicos estão de acordo com a medida
Há cerca de dez dias a Prefeitura de Jandira vem divulgando com bastante ênfase um novo processo de agendamento de consultas na rede municipal de saúde que pretende permitir maiores facilidades aos pacientes e usuários dos principais espaços destinados ao atendimento de consultas na cidade. A Secretaria de Comunicação do prefeito Dr. Sato (PSDB) chegou a publicar anúncio de capa na edição de 13/9/22 de seu ‘Jornal Oficial’ (mantido com recursos públicos); mantinha até esta semana chamada principal no site da Prefeitura; e em material distribuído à imprensa chegou a afirmar que trata-se de um “momento histórico”, já que “marca e representa o crescimento da saúde na cidade”, diz.
Todo o novo processo, na verdade, consiste em abrir o mecanismo de agendamento para consultas diariamente, já que tal processo era feito apenas uma vez por mês pelos técnicos da Secretaria da Saúde. Segundo a explicação oficial, “com essa novidade, elas [as agendas] serão disponibilizadas diariamente. Ou seja, a qualquer momento que o paciente chegar na Unidade Básica de Saúde (UBS) ele poderá agendar sua consulta, ter ela marcada a curto prazo e, dependendo da necessidade, após a avaliação do acolhimento, o paciente poderá ser atendido na especialidade no mesmo dia”.
Uma declaração foi atribuía do prefeito Sato, a quem se diz ter “o objetivo de reorganizar o fluxo de atendimento”: “Esse processo irá beneficiar diretamente o cidadão jandirense. Democratizar e facilitar o acesso à saúde de qualidade é um dos meus maiores objetivos desde o início. A concretização desse projeto prova que estamos no caminho certo. Vamos em frente. Temos muito trabalho para planejar e executar”, teria mencionado o prefeito.
SEM FILAS
Sem especificar como se dará esse novo processo de agendamento na prática, com horários, unidades de atendimento ou mesmo outros canais para facilitar o agendamento, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Jandira foi questionada pela reportagem do jornal Página Zero para o fornecimento de mais detalhes. Em documento elaborado pela Secretaria de Saúde e enviado ao jornal por e-mail, a pasta informa que “o sistema usado será de forma presencial, com agendas sem restrição de dias ou horário para serem abertas, devendo haver agendamentos nos horários e dias de funcionamento das UBSs”. E completa: “Com isso, a população não precisará ficar em filas para garantir seu acesso a um atendimento em consulta médica”.
‘DOBRANDO O ATENDIMENTO’
No afã de divulgar a “grandiosidade” da iniciativa, a Secretaria de Comunicação, em sua divulgação para a imprensa, chegou a afirmar que, dos atuais 200 atendimentos aproximados realizados por médico na rede pública, esse número seria multiplicado por dois (dobrado) chegando a 400 atendimentos por mês a cada médico, ultrapassando 10 mil atendimentos por mês na cidade.
Sobre o total de atendimentos, a Secretaria de Saúde explicou que todo o processo atende as diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e que a equipe de médicos que integra a Saúde da Família deve atender cerca de 409 consultas por mês. Como em Jandira a equipe é composta por 26 médicos, esse número é facilmente multiplicado (26 x 409) chegando-se a 10.634 atendimentos mensais.
Sobre o tipo de atendimento, a Secretaria esclarecer que “na estratégia de Saúde da Família, está previsto [o atendimento] por médicos generalistas ou médicos da família (…) realizando atendimentos em saúde da mulher, da criança, do adolescente, pessoa adulta e idosa”.
Sobre o fato de “dobrar” o atendimento citado pelo setor de Comunicação, com a ampliação de 200 para 400 atendimentos por mês a cada médico, a Secretaria não se manifestou. Depois de recebido o documento, a reportagem do Página Zero insistiu no recebimento de tal informação, mas o setor de Comunicação não havia respondido até o fechamento deste edição.
A principal questão colocada em pauta é saber, tanto do prefeito Sato, como de suas assessorias ligadas à Comunicação e à Saúde, se o aumento no número de consultas (dobrando-as) atribuídas a cada médico foi amplamente debatida com cada um desses profissionais; principalmente porque, se eles estão habilitados e até habituados a atender a 200 pacientes por mês, o que seria feito em termos de estrutura para que eles passem a atender 409,com diz o material de divulgação.
Entende-se, inclusive nesse processo de estrutura, se a questão remuneratória chegou a ser debatida com os 26 médicos da equipe de Saúde da Família, já que foram contratados com uma base salarial e carga horária compatíveis com o atendimento de 200 consultas. E para 400 consultas mensais, haverá alguma compensação financeira ou de horários?
Até o fechamento desta edição a Prefeitura não havia enviado tal resposta à reportagem do jornal Página Zero.