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Desperdício de um, fome do próximo

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Mario Eugenio Saturno

Cerca de 33 milhões de brasileiros passam restrição alimentar, irmãos de pátria, muitos são irmãos de fé, abandonados à própria sorte, à mercê das instituições de caridade. Pode não parecer, mas a maioria das pessoas tem uma parcela da culpa dessa injustiça social diante dos homens e de Deus. Isso acontece toda vez que você joga comida no lixo mesmo que seja pão e arroz.
Os preços dos alimentos são estabelecidos pelos custos de produção, pelo lucro e pela lei da oferta e procura. Ou seja, se você desperdiça, significa que tem dinheiro para pagar mais, então quem não pode pagar, não come.
Um levantamento da ONU mostra que, no Brasil, desperdiça-se 27 milhões de toneladas de alimentos por ano e que 60% dos alimentos jogados fora vêm do consumo de famílias. E, segundo a Embrapa, as perdas na fruticultura e na produção de hortaliças alcançam, respectivamente, 30% e 35%. O desperdício de alimentos gera ainda outro problema: o lixo.
Nos Estados Unidos, a situação é ainda pior: cerca de 50% de todos os produtos agrícolas são jogados fora, 60 milhões de toneladas, ou US$ 160 bilhões de produtos agrícolas por ano.
Entre as principais causas das perdas estão o manuseio inadequado no campo, a comercialização de produtos a granel, a embalagem inadequada, a manipulação excessiva pelos consumidores, os veículos inadequados, as estradas precárias e o acúmulo de produtos nas bancadas de venda no varejo. O transporte é possivelmente a principal causa de danos mecânicos. Problemas solucionáveis.
Se a produção está equacionada, é preciso atuar no poder aquisitivo dos mais pobres. A Bolsa-Família é uma boa solução para quem não pode trabalhar; para os demais é preciso promover o emprego nas empresas, que seja parcialmente pago pelos governos, como em um programa de Bolsa-Emprego. Outra iniciativa que não pode ser esquecida são os estágios remunerados, também podendo ter participação pública. Além de tirar o profissional da ociosidade, ele ganha experiência. Afinal, como diz o próprio Papa: ter caridade é bom, mas gerar emprego é melhor!
Um projeto que poderia ser tentado é o fornecimento de vasos com frutíferas para famílias pobres que tenham espaço em quintais ou varandas. Outra iniciativa seria o ensino de cultivo de hortaliças em vasos, eu mesmo tenho feito experiências utilizando garrafas de plástico de 2 e 5 litros, através de sementes ou das raízes que vêm com as hortaliças que compramos nos mercados. Algo que funciona bem é o plantio das raízes de cebola, um terço vinga.
Os ingleses já sabiam no século XIX que acabar com a escravidão era criar mercados consumidores, ou seja, fazer a economia crescer. E há mais de cem anos, Henry Ford sabia que seus funcionários deveriam ter poder aquisitivo para comprar o carro que fabricavam, ou seja, salário não deve ser o menor valor possível, mas o suficiente para adquirir bens. Nossos políticos têm que entender isso e trabalhar para que a nação tenha um projeto de salários justos, que crie um mercado interno sustentável e dinâmico. Eficiência na produção e justiça social é igual a sucesso econômico!

Mario Eugenio Saturno é tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano

 

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