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Chuta, que é nosso!

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José Renato Nalini

O Brasil não prestigia o que é dele. A mentalidade colonial, que criou o complexo de vira-lata, continua presente e forte. Isso explica o motivo de não termos sequer um Prêmio Nobel. Quando existe um candidato, a mente mesquinha de eventuais concorrentes elabora dossiês e abastece a comissão julgadora para que o Brasil fique novamente fora do páreo.
Assim acontece com Paulo Freire. O educador ético desenvolveu em Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, um método de alfabetização de jovens e adultos capaz de ensinar a ler e a escrever em 40 horas. O sucesso foi tamanho, que o mundo inteiro se apropriou da estratégia. O livro “Pedagogia do Oprimido”, escrito por Paulo Freire em 1968, é hoje o terceiro livro mais citado em ciências sociais no planeta, segundo estudo da London School of Economics, a célebre LSE do Reino Unido.
Só que a política, essa praga que no Brasil se tornou profissão, atraindo os acometidos de avidez por dinheiro e poder, impediu que o método Paulo Freire promovesse o verdadeiro milagre de alfabetizar a maioria dos brasileiros. Maioria que, se não está no analfabetismo em sentido estrito, milita na vasta e crescente região do analfabetismo funcional.
Aquilo que o Brasil despreza, porque nascido de um brasileiro nordestino, o mundo prestigia. Foi o que levou a diretora norte-americana Catherine Murphuy a realizar o documentário “Fonemas de Liberdade”, para celebrar um patriota. “No mundo da educação e, em especial, da alfabetização de adultos, todos os caminhos levam a Paulo Freire”, disse a documentarista. Ele descobriu que a fórmula milagrosa de fazer pessoas iletradas se interessarem pela escrita e pela leitura era fazê-las raciocinar sobre a sua realidade. “Os analfabetos, em primeiro lugar, se reveem na situação concreta de sua experiência existencial e percebem que transformar a realidade com seu trabalho, com sua ação e sua reflexão é uma forma de criar e recriar o mundo, portanto, de assumir um papel de sujeito transformador e não de objeto”.
Prestemos atenção, porque a afirmação vem de uma cineasta americana. Aqui, nós continuamos a praticar o lema: “Chuta, porque é nosso!”.

José Renato Nalini é diretor universitário, docente de pós-graduação e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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