Início Opinião Combater o mosquito. Sem ele, não haverá a dengue

Combater o mosquito. Sem ele, não haverá a dengue

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

O relatório do Ministério da Saúde, que abordou as quatro primeiras semanas do ano – até 27 de janeiro – informa que foram notificados no período 243.720 casos de dengue no país, com 24 mortes confirmadas e outras 163 ainda sob investigação. O número de adoecidos no período superou o total registrado durante o ano de 2017 inteiro, quando a soma foi 239 mil. Comparado com o mesmo período de 2023 observa-se o aumento de 273%. As regiões geográficas onde se apresentam os maiores coeficientes de incidência são Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As vítimas residem em mais de 3 mil municípios. A estatística mostra que há em média 120 casos de dengue para cada 100 mil habitantes.
Em números absolutos, São Paulo, com 39 mil casos, tem o maior contingente de doentes. O Rio de Janeiro já se declara em epidemia, com o registro de 44,2% casos em relação ao apurado no ano passado. O Acre, com 3 mil casos já declarou estado de emergência, o mesmo fazendo Minas Gerais, que registra muitos casos de chicungunya, moléstia também transmitida pelo mosquito. Brasília, com o aumento da dengue, solicitou a colaboração das Forças Armadas para a aplicação do fumacê e outras providências contra o mosquito transmissor.
O Ministério da Saúde criou um centro de operação de emergência no combate à dengue, onde deverá interagir com os estados, municípios e outros ministérios que vierem a atuar no combate ao mal. Também já definiu a aplicação da vacina adquirida do Japão na população de 14 a 19 anos de 521 municípios já selecionados. O Instituto Butantan, de São Paulo, publicou numa revista científica a notícia de que a vacina de sua produção já foi testada e tem eficácia de 78,6% contra a dengue e terá seu pedido de registro encaminhado à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para começar a ser aplicada na população em 2025. A vacina japonesa é de duas doses com intervalo de três meses entre uma e outra. A do Butantan será de dose única.
As autoridades sanitárias lembram que, apesar de importante, a vacinação é apenas um dos meios de prevenção à dengue e ainda não há em número suficiente para imunizar toda a população. A principal orientação de hoje é a eliminação dos criadouros do mosquito transmissor. As prefeituras estão convocadas a colocar seus agentes de saneamento na rua para fiscalizar imóveis e outros locais que possam conter água limpa armazenada em condições de criar o inseto.
O aedes-aegypti, mosquito transmissor da dengue, é originário do Egito (África), e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais desde o século 16, período das Grandes Navegações. Admite-se que o vetor foi introduzido no Novo Mundo, no período colonial, por meio de navios que traficavam escravos.
No Brasil há relatos de prováveis epidemias de dengue no início deste século. Em 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói (RJ). Mas a primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista (Roraima), causada pelos sorotipos DENV-1 e DENV-4, supostamente vindos em mosquitos contaminados no interior de pneus para recauchutagem. No ano de 1986, com a introdução do sorotipo DENV-1 no Rio de Janeiro, foram registradas epidemias em diversos estados.
O país luta contra as infestações desde o começo do século passado, quando Oswaldo Cruz vacinou a população do Rio de Janeiro contra a febre amarela, cólera, varíola e outros males e a obrigatoriedade da vacina causou revolta popular. Hoje temos muitos trabalhos da Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Butantan e outros órgãos de saúde sobre dengue, zika e chicungunya. Contudo, o enfrentamento da pandemia da Covid-19 absorveu toda a estrutura de saúde e isso pode ter levado à escalada da dengue que hoje nos preocupa. Louve-se o trabalho de combate à Covid, realizado a duras penas e sob o mais irresponsável ataque político-ideológico. Aquela já é uma etapa vencida, e aprendemos muito com ela. Agora chegou a hora de enfrentar radicalmente a dengue e suas associadas (zika e chikungunya) e, principalmente, combater o mosquito que as transmite. Além de tratar os doentes e vacinar os expostos a risco, há que se promover a grande caça ao mosquito. Diferente da Covid, que se transmite entre os humanos, a  dengue só é levada a novas vítimas pela picada do mosquito. Logo, sem mosquito, não haverá epidemia e muito menos pandemia. É em razão da importância do inseto no quadro sanitário presente que o poder público tem de ser intransigente com quem tiver os criadouros em sua propriedade. Para evitar a perda do controle sanitário, o dono ou administrador do imóvel onde for encontrado o mosquito ou a sua larva deve ser multado, quiçá processado para que sirva de exemplo aos demais. O quadro exige responsabilidade.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)

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