José Renato Nalini
O medo mora dentro de nós. Todos os humanos temem. Aquele mais disfarçado é o temor da morte. Ela está à espreita. Dela ninguém escapa. Mas há outros medos menores. Medo de passar fome. Medo de ser assaltado. Medo de contrair câncer. É por explorar o medo que o terror ganha filmes, livros, audiovisuais. Há uma singular morbidez em cada ser humano, aquele que é normal, em assustar o próximo.
Mas há um medo que não tem sido levado a sério. Não é o medo da Inteligência Artificial, em que os toscos sequer acreditam. É preciso ser muito antenado com a 4ª Revolução Industrial para repetir como Nathan, personagem de “Ex Machina-Instinto Artificial”, de 2015: “Um dia as Inteligências Artificiais vão olhar para nós, em retrospectiva, como nos hoje olhamos os fósseis de esqueletos nas planícies da África”.
Aparentemente, ninguém demonstra medo daquilo que de fato já está acontecendo: a destruição do planeta, causada pela única espécie que se intitula racional e que provoca uma catastrófica mudança climática. Para Jeff Vander-Meer, o horror verdadeiro “é a beleza do mundo natural justaposta ao modo como destruímos esses sistemas naturais sem compreendê-los”. Sim: esta a tragédia! O homem destrói aquilo que ainda não aprendeu a conhecer e de que dependeria sua sobrevivência neste sofrido e vilipendiado planeta, por tempos imemoriais, tendentes ao infinito.
Tudo o que está a acontecer à nossa volta, – seja mais perto, como as inundações, as tempestades, a crise hídrica, a destruição – seja mais longe, como os incêndios na Califórnia e em Portugal, as nevascas fora de hora, os tornados, furacões e tsunamis, representam os amargos frutos das convulsões de um planeta em sofrimento.
A biosfera desequilibrada por ignorância e insensatez humana é o tema do filme “The Girl with all the gifts” (2014, a garota com todos os dons), de M.R.Carey, chegou à devastação em virtude de infecção fúngica.
O que dizer do horror dos refugiados, dos migrantes, que fogem de suas pátrias dizimadas e que encontram repúdio, insensibilidade – dorme em paz quem os deixa morrer em naufrágios? – e uma parcela humana perplexa, como se não soubesse o que está a acontecer?
O circo de horrores continuará, até que algum lampejo de lucidez acorde os poderosos que manipulam o mundo. Até lá, contem com o terror do amanhã, que não está tão longe assim.
José Renato Nalini é autor de “Ética Ambiental”,
4ª edição, RT-Thomson
Reuters e consultor juríico