Júlio César Cardoso
A triste realidade do Brasil atual: “osso é vendido e não dado”, conforme consta de cartaz afixado em açougue de Florianópolis/SC. Este é o retrato de um país mal dirigido e que envergonha a todos.
Trata-se de cena patética, nunca vista, em um país produtor de alimentos, cuja população desassistida passa fome. Entra governo e sai governo, mas o problema continua insolúvel.
E para piorar, agora é o dragão da inflação que ressurge, atingindo principalmente as camadas mais humildes, que não podem comer sequer um pedaço de carne de segunda.
Não venham, segmentos governistas, transferir a causa da inflação, por exemplo, aos efeitos da pandemia do coronavírus, pois o resto do mundo enfrenta a mesma situação. O Brasil, indubitavelmente, é um país bumerangue, cujos problemas são resolvidos de forma paliativa para logo em seguida voltarem à estaca zero e fazendo estragos.
O país carece de política social séria de curto, médio e longo prazos. A fragilidade de sua plataforma para combater os problemas sociais decorre de sua cultura política e governamental corrompida, a qual conduz a nação sob o interesse de grupos que só desejam tirar proveito da coisa pública e beneficiar os seus negócios particulares.
Como aceitar que um país produtor de alimentos, petróleo, etc. submeta o consumidor nacional às variações de preços do mercado internacional? Essa lógica de mercado especulativo das commodities interessa aos exportadores, mas é danosamente prejudicial ao bolso do consumidor brasileiro.
Ora, as mercadorias que aqui são extraídas ou produzidas têm que ser negociadas no mercado interno a preços inferiores aos praticados no mercado externo. Não podemos castigar ou inviabilizar o consumidor nacional, principalmente a camada mais necessitada. Os grandes conglomerados exportadores não podem só pensar nos lucros exorbitantes de seus negócios. Eles têm de respeitar o consumidor nacional que não pode pagar preço de cotação internacional.
É óbvio que empresas comerciais devem trabalhar com as regras de mercado, reunindo os fatores de produção e coordenando-os no sentido de obter melhores resultados econômicos, bem como retribuir em lucros os seus cotistas ou acionistas. Mas o consumidor nacional, mormente o de baixa renda, não pode ficar inviabilizado de consumir bens — a preços “irrazoáveis” — que aqui são produzidos.
Produzimos mercadorias e não podemos consumir? Temos que inverter essa prática comercial perversa, que favorece os exportadores e prejudica os consumidores internos, que não podem pagar preços de commodities.
Portanto, o preço das mercadorias aqui produzidas e negociadas no mercando interno deveria ser menor ao praticado no mercado externo. E cabe ao Congresso Nacional examinar essa questão.
Júlio César Cardoso é servidor federal aposentado, estabelecido no Balneário
Camboriú/SC