José Renato Nalini
Impressionante o desconhecimento dos brasileiros em relação ao seu primeiro Imperador. Pedro I foi um gênio. Nosso complexo de “vira-lata” costuma contemplar uma caricatura do jovem filho de D. João VI, também de certa forma ridicularizado. Fala-se mais em suas aventuras, do que em suas incríveis proezas. Pense-se que esse príncipe, que falava muitos idiomas, conseguiu fazer a independência do Brasil, sem conflitos. Era poeta, redigiu uma belíssima Constituição – a de 1824 – fez de sua filha Maria da Glória a Rainha de Portugal e era notável compositor.
Ao escrever sobre sua coroação, o Monsenhor Guilherme Schubert estranha não encontrar notícias sobre a música executada durante a cerimônia. Pedro I compôs o “Hino à Independência”. O autógrafo está no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O Imperador escreveu um “Te Deum”, enquanto era Príncipe da Beira, e o dedicou ao pai, D. João VI.
Também compôs um “Credo”, muitas vezes executado sob o título “Credo do Imperador”, um motete a São Pedro de Alcântara e uma sinfonia.
Todavia, embora descrita em detalhes a solenidade da coroação, inclusive com o registro de todos os seus partícipes e oficiantes, nada se fala sobre a música. Era Mestre de Capela o Padre José Maurício Nunes Garcia, o que é comprovado pela folha de pagamento do último quarto de 1822, pela qual o padre compositor recebeu uma côngrua de cento e cinquenta e seis mil réis.
Teria Pedro I escrito alguma peça especial para tão importante ocasião? Se não teve condições de compor, já que assoberbado com a consolidação do novel império, qual teria sido a música executada naquela sagração litúrgica, expressão concreta da subsistência da teoria do direito divino do monarca?
É uma tarefa para pesquisadores da música brasileira, como o Maestro Júlio Medaglia, que menciona a excelência dos músicos dos tempos da colônia e do Império, de igual dimensão em importância, ou até superiores aos europeus.
De qualquer forma, os brasileiros têm inúmeros motivos para celebrar seu primeiro Imperador, de quem a nação deveria ter infinitas saudades.
José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras