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Tudo de novo

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José Renato Nalini

Novo ano, porém tudo se repete. Outra vez o mesmo. Tudo de novo, como no ano passado e nos anteriores: as resoluções que duraram menos do que uma noite de verão! Os propósitos abandonados. A inércia a dominar a rotina, tudo muito igual, tudo na mesma. Então, por que celebrar? Há motivos para comemorações? Algum significado na data que os povos costumam festejar como se fora um acontecimento invulgar? A sensação de mesmice pode contaminar os menos otimistas.
Só que há mudanças concretas. O calendário indica outra contagem. O aniversário é um confronto inevitável: mostra que a idade avança. O tempo não para, nem retrocede. É implacável. Há quem diga que um novo ano significa um ano a menos daquilo que se resta para viver.
Seja como for, um sopro de entusiasmo ajuda a seduzir grande parte das mentes, como se a convenção de se iniciar novo período de doze meses sinalizasse real mudança na vida humana.
Refazem-se as listas com os objetivos a serem perseguidos. Limpam-se gavetas. Rasgam-se agendas e calendários. Pode ser algo mágico. Pois mudar de atitude não depende da folhinha. Está no recôndito da consciência, único instrumento que pode impulsionar a vontade.
O simbolismo do velhinho que sai de cena e é sucedido pela criança viçosa, é capaz de reanimar os combalidos. “Adeus, ano velho! Feliz, ano novo! Que tudo se realize, no ano que vai nascer! Muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender…”. Talvez este ano seja melhor. Tomara se concretizem os anseios e os desejos insatisfeitos. Vamos torcer e rezar.
Que tal reduzir as pretensões e se satisfazer com pequenas atitudes? Mudanças radicais nem sempre são possíveis. Esquemas consolidados impõem uma sequência previsível e pouco afeiçoada a mutações. Toda modificação é traumática. Os italianos têm um ditado muito eloquente: “Qui lascia la strada vecchia, per la nuova, sa il qui lascia, non sa il qui trova”.
Valerá a pena enfrentar desafios?
Em regra, o ser humano comum resiste a surpresas. Prefere seguir a meta programada. O comodismo é um comando forte. Por que mudar? Para que? O hábito, ou o costume, passar a constituir uma segunda natureza.
Quem muito cogita, não agita. Permanece, passivamente, deixando que a vida o leve. E ela leva mesmo…
Elucubrações nostálgicas povoam o território etéreo da memória. Quantos foram os que partiram e não voltam mais? O que pode ser creditado a nosso favor nesses doze anos que passaram tão rápido? Valeu a pena? Ou não valeu?
Cada qual tentará responder, de acordo com a sua régua. Afinal, viveu-se um período considerável: trezentos e sessenta e cinco dias a mais. Acrescente-se tal termo temporal à minha escala existencial. Agora é uma nova etapa. Dias, semanas, meses, nos quais eu poderei estar e tentar realizar aquilo a que me propus.
Aceitar a dádiva gratuita da existência como um privilégio. Quantos aqueles que começaram 2019 e não chegaram a 2020?
Aqui estamos nós, com a graça de Deus. Mais um ano pela frente.
Feliz 2020 para todos!

José Renato Nalini
é presidente da
Academia Paulista
de Letras (2019/20)