As competições esportivas por todo o mundo estão suspensas; as temporadas de algumas já foram decretadas como encerradas pelos seus organizadores e na terça-feira, 24/3, por fim, o Comitê Olímpico Internacional (COI) concordou em adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio para 2021. Diante deste cenário causado pela pandemia do coronavírus, os principais clubes de futebol, da maioria dos estados brasileiros e de todas as divisões, resolveram dar férias aos seus atletas, mas para não deixarem ociosas as instalações, seus dirigentes resolveram abri-las às autoridades públicas para reforçarem o combate ao causador da doença.
A medida, que abrange dos mais bem estruturados aos mais modestos clubes de Norte a Sul, ainda não havia sido seguida (até a quinta-feira, 26/3) pelos representantes da região como o Oeste, de Barueri; e o Grêmio Osasco Audax; sendo o rubro-negro um dos integrantes da Série A1 estadual e da Série B nacional; o Osasco Audax disputa a Série A2 bandeirante.
Mas encabeçando a lista solidária, ao menos 12 dos 20 integrantes da Série A do Brasileirão já havia comunicado que abriram suas estruturas para combater a pandemia, que no Brasil já causou a morte de quase 60 pessoas em um universo de mais de 2 mil casos confirmados da infecção.
Nesta partida a favor da preservação da vida, por exemplo, nenhum dos quatro membros do “quarteto de ferro” do esporte bretão paulista deu bola fora ou marcou gol contra. Eles cederam estádios, salões sociais ou centros de treinamento (CT) para que as autoridades instalem unidades de tratamento aos doentes infectados pelo vírus ou para que sejam instalados hospitais provisórios, pontos de doação de sangue ou de vacinação em um momento no qual os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro são os mais impactados e buscam alternativas capazes de impedir um colapso do sistema sanitário e de saúde.
O Corinthians, por exemplo, abriu os portões da Arena Itaquera, para coleta de sangue, e da sede social e do Centro de Treinamentos (CT) para que as autoridades avaliem de que forma poderão ser utilizados no combate ao avanço da enfermidade que pode levar à morte. No mesmo rumo, o Palmeiras liberou a Arena Palestra para ser utilizada como posto de vacinação contra a gripe influenza, entre outras medidas. O São Paulo permitiu ao governo estadual usar o estádio Cícero Pompeu de Toledo, vizinho ao Palácio dos Bandeirantes e ao Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no bairro do Morumbi, mais os CT da equipe profissional e da base, incluindo o de Cotia, na Grande São Paulo, além daquele que tem na Barra Funda. No Litoral, o Santos concedeu os salões da Vila Belmiro para que seja montado um hospital provisório.
Fora do Estado de São Paulo também foram adotadas posturas semelhantes, entre outros pelos cariocas Flamengo e Botafogo com a concessão dos ginásios Maracanãzinho e da sede rubro-negra, na Gávea; e do estádio olímpico Nilton Santos, no bairro Engenho de Dentro, atualmente explorado pelo “Glorioso”. Na porção Sul do país, o Athletico liberou a Arena da Baixada e o CT, em Curitiba (PR), ao passo que o Internacional colocou à disposição o ginásio poliesportivo e a sede do clube, em Porto Alegre (RS).
No Nordeste, Bahia (BA), Fortaleza e Ceará (CE) permitiram que os respectivos CT sejam utilizados enquanto durar a pandemia. “Esta luta é de todos nós!”, resumiu em nota a direção do Ceará, publicada nas redes sociais. Por fim, na região Centro Oeste, a atitude do Goiás foi oferecer ao governo o estádio Serra Dourada, em Goiânia (GO) para que pessoas de mais de 60 anos e profissionais da área de saúde, mais vulneráveis às infecções virais, possam se vacinar contra a gripe comum e evitem formar aglomerações nos centros médicos.
Equipes da Série B como Cruzeiro (MG), CRB (AL), Náutico (PE) e Juventude (RS) uniram-se à corrente pelo combate ao coronavírus, reforçada também por clubes da Série C tais quais: ABC (RN), Santa Cruz (RS), Criciúma (SC) e ainda o Clube do Remo (PA).
Situado em Brasília nas proximidades das sedes dos palácios dos três poderes da República e da Esplanada dos Ministérios, utilizado na Copa do Mundo de 2014 e que já recebeu vários jogos da Série A do Brasileirão, os detentores do direito de exploração do estádio Mané Garrincha disponibilizaram o equipamento e todo seu complexo desportivo para auxilio ao governo do Distrito Federal, a exemplo do que será feito com o estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo (ver matéria ao lado).
BRASILEIRÃO PODE SER DISPUTADO EM MATA-MATAS
O Ministério da Saúde prevê que a epidemia do Covid-19 alcançará seus mais severos picos entre abril e junho no Brasil, e que só a partir de setembro começaria a reverter a curva acentuada no número de casos. Com este cenário, portanto, até mesmo os calendários dos campeonatos brasileiros, inicialmente previstos para começarem no primeiro final de semana de maio, estão ameaçados de ao menos serem postergados. Nesta semana, inclusive, já circularam nos bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entre alguns clubes e na imprensa especializada que estaria em cogitação a organização da temporada nos moldes dos antigos “mata-matas”, abandonados desde 2003 quando começou a “era dos pontos corridos”.