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Paulistão 2020 poderá ter quatro campeões e nenhum rebaixado

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Declarar quatro campeões e cancelar ‘degola’ estão entre propostas enviadas à FPF caso o Paulistão 2020 não prossiga

Equipes da A2 e A3 demonstram apreensão pela falta de receitas e término de contratos com jogadores e um deles, o Noroeste, recusa título sem jogar

Por Marcelino Lima

Desde 16 de março paralisado por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Campeonato Paulista de futebol da Série A1, o Paulistão 2020, poderá ter de ser estendido além do calendário inicial — o que prejudicaria clubes de menor poder aquisitivo e com caixas limitados para bancar jogadores e despesas — ou até mesmo vir a ser encerrado, de forma definitiva, a qualquer momento pela Federação Paulista de Futebol (FPF), em consenso com as equipes participantes. O impasse vale, ainda, para as séries A2 e A3, totalizando 48 times (16 em cada divisão) à espera de uma decisão para que possam tentar planejar a sequência da temporada ou, simplesmente, fecharem as portas até o ano que vem. Várias sugestões estão, neste momento, sobre a mesa da entidade, que as estaria avaliando sob a intensa pressão dos dirigentes. E os “cartolas”, entre outras propostas, reivindicam, por exemplo, desde a decretação de múltiplos campeões até a supressão do rebaixamento.
Em torno desse debate, evidentemente, a maior preocupação é a situação dos cofres, pois sem a realização de jogos, as receitas para honrar folhas de pagamentos e outros custos mínguam a cada dia, posto que entre outras, uma das mais importantes fontes de arrecadação da maioria, as cotas de televisão da Rede Globo, sofreram congelamento. O vínculo contratual de vários jogadores também está para caducar, o que poderia impedi-los de disputar uma possível sequência dos estaduais semanas adiante, drama que o Santo André, que é o líder geral da Série A1, já deixou público que enfrenta e que, por conta dele, poderá até não mais atuar caso os jogos recomecem. “Se demorar para retornar a competição, fica inviável a participação do Santo André de forma competitiva”, frisou Edgar Montemort, diretor de futebol da equipe. “Não só do Santo André, mas de qualquer clube médio ou pequeno. Eu acho que seria injusto o Santo André retornar na competição jogando com a base ou com um time contratado às pressas”, avaliou.
São imersas neste quadro confuso, portanto, que as cartas vão sendo postas, ensejando, ainda, apelos ao “tapetão” para mudanças das fórmulas já em andamento e, inclusive, as “viradas de mesa”. A FPF não esconde que defende, inclusive, postergar o início do Brasileirão — programado para o primeiro final de semana de maio –, para, com um pouco de otimismo, reativar os estaduais e encerrá-los em julho; o jogo de volta da final do Paulistão 2020, o último da temporada, estava marcado (antes da escalada da Covid-19) para 26 de abril. A largada para os torneios nacionais, independentemente de como viriam a ser disputados, seriam, desta forma, prorrogados, com encerramento em dezembro, mas ainda deverá pesar nesta definição a agenda das Eliminatórias Sul-Americanas à Copa do Mundo de 2020 e as copas continentais, Libertadores e Sul-Americana, as quais a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deverá priorizar. “Mantemos contato com a CBF para saber as possibilidades de adaptação do calendário do futebol para este ano. Até o momento, entretanto, não há nada definido”, divulgou o presidente da FPF Reinaldo Carneiro Bastos no início desta semana.
Em meio à turbulência, entre as principais propostas há os que pedem que o troféu da Série A1 seja entregue ao Santo André, dono da melhor campanha com 19 pontos ganhos no grupo B — a mesma pontuação do Palmeiras quando a bola parou, mas beneficiado pelos critérios de desempate previstos no regulamento. Outra hipótese que aparece é o cancelamento dos torneios, sem campeões, nem rebaixados: a duas rodadas do fim da primeira fase do Paulistão 2020, Ponte Preta e Botafogo estão com um pé na A2, e a luz amarela piscava para Água Santa, Ituano, Oeste, Ferroviária, Internacional e até o atual tricampeão, o Corinthians. Bastos já ouviu também pedidos para que a elite tenha quatro campeões neste ano, o que beneficiaria os líderes de cada grupo, além do “Ramalhão”: Santos (A), São Paulo (C) e Bragantino (D).

OSASCO AUDAX E GEO

Transferindo o foco para as propostas dos clubes das divisões inferiores, já se sabe que ao menos entre os líderes da Série A2 não seria aceito o cancelamento dos descensos, abrindo a possibilidade de os estaduais em 2021 serem inflados com a subida de ao menos dois deles. São Bernardo, Taubaté, Portuguesa Santista, Monte Azul, XV de Piracicaba, São Caetano, Juventus e Portuguesa de Desportos, nesta ordem, compunham o grupo dos oito melhores e já estavam mais próximos das etapas de “mata-mata”. O Grêmio Osasco Audax, portanto, é parte interessada no desatamento deste nó, pois está com 15 pontos em 10º lugar, a duas casas da “Lusa do Canindé” (que em 8º conquistou 18) e empatado com o São Bento, o 9º colocado, com saldo zerado de gols, contra 2 negativos dos osasquenses.
O Grêmio Esportivo Osasco (GEO) é um dos 16 concorrentes ao troféu da Série A3. Quando a suspensão começou, era o 13º colocado com 12 pontos, a mesma situação do Esporte Clube Primavera, 14º e primeiro fora da zona de degola, ambos com apenas 1 a mais que o penúltimo, Marília, 15º com 11. O “lanterna” é o Paulista, com 7.
Líder geral com 26 pontos, 6 a mais que o Esporte Clube São Bernardo, que ocupa a segunda posição do torneio com 20, por meio de uma nota assinada por quatro de seus dirigentes incluindo o presidente Rodrigo Gomes, o Noroeste publicou em sua página virtual um comunicado declarando que abre mão do título sem voltar às quatro linhas, contrariando o que estaria sendo advogado por parte de seus adversários.
“Ante os rumores de que diversos clubes da Série A3 do Campeonato Paulista de 2020 defendem que o estadual deve ser encerrado imediatamente (…) e que sejamos declarados campeões, o Esporte Clube Noroeste”, conforme apontam os signatários, entende “que não é o momento de tratarmos deste assunto. O período é de pensarmos na vida, nos seres humanos e na nossa coletividade. O mérito esportivo, por ora, fica em segundo plano”. Em um trecho mais adiante, a nota acrescentou: “No âmbito esportivo, o Esporte Clube Noroeste afirma que não é a favor do encerramento do Campeonato Paulista da Série A3 neste momento. Esperamos a retomada do estadual o quanto antes, porque nosso objetivo é conquistar o acesso dentro de campo.
O Noroeste compartilha das dificuldades de todos os clubes da Série A3 (…), mas entendemos que se a situação melhorar, ainda está em tempo de retomar o campeonato, o que seria melhor para os clubes, para os jogadores, para os torcedores e para o futebol de modo geral”.

Líder da Série A3 com 6 pontos a mais que o segundo colocado, o Noroeste (vermelho) quer levantar a taça com a bola rolando