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Desigualdade é doença

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Renato Nalini

Poucos prestam atenção às advertências que provêm de pesquisas recentes. O Brasil é um campeão da desigualdade. Nos últimos anos, os ricos ficaram mais ricos e os pobres ingressaram na miséria.
Martin Wolf, comentarista-chefe do jornal Financial Times, chama a desigualdade de “doença”, cujo sintoma é o declínio da convivência fraterna e a ascensão do populismo. Se isso não vier a ser enfrentado de maneira racional, mas firme, o resultado será a transformação da sociedade numa expansão furiosa de violência e de injustiça.
A chave para minimizar os efeitos desse mal é, como aquela necessária para quase tudo, a educação. Uma formação qualificada, sofisticada e atualizada, reduz drasticamente a desigualdade. Mas o principal é a reforma da consciência, a mais difícil de ser obtida.
É urgente reforçar o sentimento de solidariedade e de corresponsabilidade. Cada ser humano deve se sentir responsável por outro ser humano. Aqui no Brasil é fácil raciocinar: enquanto houver um brasileirinho passando fome, um brasileirinho sem escola, uma família sem teto, eu não posso me sentir feliz. Homem nenhum é uma ilha, já se escreveu há muito.
Os últimos tempos geraram uma sociedade que, em sua maioria, é egoísta, consumista, materialista e insensível. Comove-se, retoricamente, com uma desgraça noticiada e apreendida online, de imediato, ocorra onde ocorrer. Mas pula as pernas do semelhante que está deitado em todos os passeios e ocupa crescente espaço das vias públicas das cidades.
Uma sociedade dividida, que encontra vilões e elege heróis, dificilmente disporá de condições para o enfrentamento dessa vergonhosa desigualdade. A polarização em que mergulhou o Brasil, a copiar fenômenos análogos dos países nos quais nos espelhamos e que pretendemos imitar, é outro indício perigoso de que nos afastamos da mensagem do constituinte de 1988: edificar uma sociedade fraterna, justa, solidária.
É o momento de uma releitura da Constituição Cidadã, mas com o coração aberto, de quem realmente ama o Brasil, ser na verdade intangível, e não pode, simultaneamente, odiar qualquer pessoa concreta, na sua realidade tangível. Ter compaixão, ser caridoso e solidário, é mais importante do que obter a matéria que deixaremos aqui, ao término de nossa frágil e efêmera jornada pela Terra.

Renato Nalini é desembargador, palestrante e conferencista