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Educação à distância, legado da pandemia

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Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Quatro milhões de jovens e adolescentes que deixaram de ir às aulas em razão da pandemia da Covid 19 não conseguiram continuar os estudos por falta de acesso à internet ou tê-lo de forma precária. A revelação é do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Criança e o Adolescente), que também identifica a existência de 4,8 milhões de jovens cujas residências não estão conectadas à rede ou cujos equipamentos são inadequados ao recebimento das aulas à distância. Isso, segundo os levantamentos, fez subir a desmotivação dos alunos e o temor dos seus pais em relação ao abandono escolar. A pandemia tirou 44 milhões de alunos das salas de aulas e o recurso da aula eletrônica é um esforço para evitar a perda do ano, já que ainda não há certeza de quando o ensino presencial terá condições de voltar a ser como antes.
Os que tiveram os estudos interrompidos, mesmo que voltem, estarão pelo menos um ano atrasados, mas suas necessidades pessoais e de entrada no mercado de trabalho não esperam. É preciso encontrar e melhor forma de recuperar o tempo perdido pois, além da carência e interesse dos alunos, o próprio mercado deles precisará, principalmente se voltar a crescer depois de terminadas as restrições profiláticas.
A brusca parada dos estudos é apenas um dos problemas. Há, ainda como decorrência da pandemia, a questão das crianças que eram mandadas à escola ou à creche no período em que os pais trabalham. Hoje as famílias enfrentam dificuldades porque, em razão das regras de distanciamento, têm de manter os filhos em casa e, com isso, encontram dificuldade para o trabalho. Nem todos têm a possibilidade de trabalho em home-office.
Na outra ponta, há ainda a questão das escolas particulares, que vivem de anuidades pagas pela família dos alunos. Elas são quase 30% da rede e enfrentam dificuldade porque, sem aulas, perderam boa parte dos alunos cujas famílias, também por dificuldades financeiras decorrentes do momento, deixaram de pagar. Pior ainda na pré-escola, onde os pais simplesmente rompem os contratos.
É preciso encontrar os meios de manter as escolas no pós-pandemia. Mas não podemos perder a lição aprendida. As aulas à distância vieram para ficar e hoje podem ser acessadas até de instituições internacionais. Com uma boa produção, os professores têm seus trabalhos valorizados e os alunos podem, através dos recursos de download e gravação, ter o material para assistir e tirar dúvidas quantas vezes for necessário. As autoridades de Educação e o governo nos seus diferentes escalões têm de criar as condições tanto para as escolas produzirem o material quanto para os alunos terem acesso. O sinal de internet de boa qualidade e a compra de smartphones, computadores e assemelhados têm de fazer parte dos pacotes sociais pois, diferente do passado, quando eram encarados como instrumentos de lazer, hoje são ferramentas de trabalho, educação, segurança e bem-estar. Façamos do “limão” representado pela Covid 19 uma suculenta limonada. Isso fará bem a todos…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Aspomil (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)