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A inócua reinvenção da roda

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José Renato Nalini

Se dependesse de diagnósticos, a educação brasileira seria equivalente à do mundo civilizado. Não é. Está longe disso. Mas é que ainda não acordamos para a realidade cruel: confiamos num Estado que cresceu qual câncer, é tentacular em sua burocracia, muito dispendioso para uma população que empobreceu e chegou em larga escala à miséria, mas continua sendo teta farta para um número infinito e crescente de parasitas.
O pior de tudo é que durante séculos, a educação cuidou de adestrar crianças, fazendo-as memorizar informações desnecessárias, negligenciando o que é essencial: as competências socioemocionais. Por isso a defasagem entre escola e vida real. O ódio que os jovens nutrem e evidenciam com a violência crescente. O crescimento do número dos desempregados e a abulia em assumir atividades que poderiam garantir o sustento próprio e familiar, não tivéssemos o complexo do bacharel.
Outro pecado mortal brasileiro: despreza-se o que os sábios disseram, esquece-se a continuidade de bons projetos, tudo em nome de um personalismo fútil e mesquinho.
Não fora assim e se prestigiaria o ensinamento atual, porque não foi observado à época, de educadores como Fernando Azevedo e Anísio Teixeira. Este, em seu livro “A Educação e a Crise Brasileira”, de 1956, salientava que a escola primária, a melhor escola brasileira, apesar de todos os pesares, foi transformada “em má escola de ler e escrever, com perda sensível de prestígio social, eficiência e alcance, decorrente de não se haver articulado com o ensino médio e superior e de não mais satisfazer às necessidades mínimas de preparo para a vida”. Também critica a improvisação na formação de professores: “Sem sequer possuir a modesta pedagogia da escola primária, não a inquietou nenhuma agulhada de consciência na prática dos métodos mais obsoletos de memorização, da simples imposição de conhecimentos inertes e do formalismo das notas e dos exames”.
Os “especialistas” em educação têm sua receita pronta e, quase sempre, têm ojeriza à opinião alheia. Também nesse território sensível e do qual depende o porvir de tantos brasileirinhos que não terão emprego, nem o que fazer, ficamos presos a preconceitos, a mesquinharias, ao egoísmo e ao interesse por poder e por dinheiro. Até quando?

José Renato Nalini é desembargador, palestrante e conferencista