José Renato Nalini
Uma das palavras mais utilizadas nestes tempos e em todos os contextos, é “sustentabilidade”. Seu conceito resultou de sessões da ONU em que cientistas discutiram o futuro do planeta, face à insensatez da única espécie que se autodenomina racional, mas que mata o não menos único habitat que a acolhe.
A ideia é singela: sabendo usar, não vai faltar. A humanidade é cruel inquilina de um planeta que ela não construiu, mas que sabe destruir com incrível celeridade. Tornar o ambiente sustentável significa, simplesmente, usar com tal sensatez os recursos naturais, que as próximas gerações também poderão se servir deles. Até o final da aventura humana por este sofrido pequeno e frágil astro.
Ocorre que no Brasil, tem-se um discurso edificante e uma prática miserável. Fala-se em sustentabilidade, mas persiste-se em hábitos insustentáveis. Pense-se no que fizemos de nossos rios, de nossas matas, de nossa atmosfera. E o que estamos fazendo de nossas cidades, verdadeiros depósitos de lixo, testemunho da ignorância humana. Pois cada ser humano produz 378 quilos de resíduo sólido por ano. Mais de um quilo por dia. Onde vai parar a Terra com essa produção infame?
Apesar de tudo, há quem se preocupe com o amanhã. Ainda é pouco, mas não custa mencionar o exemplo de três empresas que tiveram iniciativas na área da sustentabilidade. A Tramontina lançou cadeiras feitas com plástico reciclado. A embalagem utilizada pela petroquímica Braskem para transportar resina é reprocessada e as cadeiras resultam desse manejo.
Também cadeiras feitas com garrafas PET são produzidas por Jack e Sergio Fahrer: o nome do objeto é Miramar. Lembra madeira, pois até reproduz os veios naturais em sua superfície. Até a popular Tok & Stok está oferecendo quarenta itens resultantes de algodão orgânico. Tudo chega ao mercado com 71% menos de gasto de água e 62% de economia energética.
Tais exemplos devem motivar outros empresários e, principalmente, a cidadania. A educação ambiental precisaria estar em todos os lares e em todas as escolas, clubes, igrejas, associações, bairros e cidades. Quando houver consciência de que o lixo brasileiro é uma riqueza desperdiçada, haverá dinheiro para as naturais e crônicas deficiências atribuídas ao governo. A conscientização é pedagógica: ensinará a assumir responsabilidades para implementação da prometida Democracia Participativa e também mostrará ao governo que Estado é instrumento, nunca finalidade.
É importante manter viva a utopia de que o Estado poderá vir um dia a ser desnecessário, quando a humanidade aprender a conviver ordenada e disciplinadamente, levando o respeito ao semelhante como dever indeclinável e espontâneo, em vez de ser mera alusão retórica, presente em todos os discursos/.
José Renato Nalini é presidente
da Academia Paulista de Letras (2019-2020)