José Renato Nalini
Um dos inúmeros sintomas da patologia universal é a verborragia. Todos falam, querem falar, o fazem incessantemente. Poucos querem ou sabem ouvir. Uma das questões que a psicologia hoje enfrenta é a da chamada “escuta ativa”.
Saber ouvir não é só talento. É uma necessidade. No mundo bombardeado de informações, a atenção múltipla ou difusa das pessoas é um fator que as inibe de ouvir. É um ambiente vulnerável ao surgimento de conflitos. A escuta ativa, ou empática ou mesmo reflexiva, é aceitar ouvir de forma não passiva. Colocar-se no lugar do outro e procurar entender o que ele diz. Encarar o outro de maneira empática, aberto a detectar o que ele quer comunicar.
Em todas as áreas a escuta ativa é necessária, embora a expressão tenha surgido na psicologia. Peter Drucker, o escritor de “O gestor eficaz”, afirma: “A escuta é tão importante, que vou elevá-la à condição de regra ouça primeiro, fale por último”. E o autor de “Inteligência Emocional”, Daniel Goleman, diz: “Ouvir é uma habilidade que une as pessoas. Sejam casais ou colegas de trabalho, supere as emoções que afloram, e ouça, com empatia”.
Algumas regras são intuitivas. Prestar atenção, olhar nos olhos do interlocutor, dar-lhe atenção. Evitar ouvir enquanto consulta mensagens no celular. Mostrar interesse real. A postura corporal receptiva é importante. Ficar de braços cruzados sinaliza impaciência. Interagir é fundamental. Fazer perguntas, refletir sobre o que está ouvindo, usar o “o que você quer me dizer é que…”. Responder com serenidade, não contestar. Tratar o outro com respeito e consideração. Ser empático, ou seja, evitar julgamentos.
Quantos desentendimentos seriam evitados se conseguíssemos tratar o outro como um igual, como um semelhante, ao menos. A pressa, o excesso de atividades, o egoísmo, tudo contribui para que haja monólogos aflitos, em lugar do desejável diálogo. Que não significa, de igual forma, ambos falarem ao mesmo tempo, sem que um consiga refletir sobre o que o outro está falando.
Escuta ativa não serve para o telefone, a não ser que seja aquele que permite visualizar o interlocutor. Mesmo à distância, é possível evidenciar o interesse pelo que se está ouvindo. Ouvir de verdade. Um dom que nem todos conseguem cultivar.
José Renato Nalini é presidente da Academia Paulista de Letras