Prof. Dr. Valmor Bolan
Todos acompanharam a luta do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, contra o câncer, que o vitimou aos 41 anos, em 16 de maio. Mesmo acometido com a doença, não deixou de trabalhar, de manter as suas atividades, mesmo antes das eleições, aceitando o desafio de administrar a maior cidade da América Latina, na maior crise sanitária global. O seu exemplo de enfrentamento da doença, não deixando ser derrotado pelo desânimo, mostrou que é preciso que saibamos, mesmo diante das maiores adversidades, procurar a melhor resposta, de fé e trabalho.
“Ele foi muito guerreiro”, reconheceu o filho Tomás Covas. E acrescentou: “Batalhou muito. Ele sempre teve coragem de enfrentar a doença. A gente sentia a vontade que ele tinha. O sorriso no rosto no dia a dia”. E esse é o retrato que deixa de alguém que lutou até o fim. O papa São João Paulo II também deixou esse exemplo, de manter até o fim, a luta pela vida, com disposição e coragem. Em matéria na revista “Isto É”, Eudes Lima conta que “Tomás era muito próximo ao pai. Era comum vê-lo durante toda a campanha. O secretário de Saúde do município de São Paulo, Edson Aparecido, recorda que no momento que o prefeito Bruno Covas decidiu se mudar para a Prefeitura o Tomás foi junto”.
Esta aproximação do filho foi muito importante para dar força ao então prefeito, que teve na família o grande apoio de que precisava. Trabalhou até o fim, e não aceitou se submeter a tratamentos que levassem ao prolongamento artificial de sua vida. Com isso, Bruno Covas demonstrou aceitação do curso natural das coisas. Deixa, portanto, uma lição de que devemos empreender com todas as forças, para fazer o que é possível, e também aceitar as limitações da vida, com serenidade. É assim que devemos encarar a vida: com fé e dinamismo, mas também com a percepção da realidade, de que estamos aqui de passagem, por isso precisamos fazer o melhor, com o que temos disponível.
O novo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, espera prosseguir com o trabalho de Bruno Covas, à frente dos grandes desafios, em meio ainda à pandemia que afeta milhares de pessoas, ainda com tantas incertezas. Esperamos que o novo prefeito consiga superar os problemas com a mesma disposição de trabalho e dedicação, a cada dia, buscando o melhor, dentro do que é possível, com a mesma disposição de empreendedorismo. Que a lição de Bruno Covas lhe sirva para manter os compromissos na busca de soluções que ajudem a melhorar a vida dos paulistanos. A grande lição foi a de deixar o exemplo de que se pode ser político como exercício de um sacerdócio de amor ao próximo.
Por isso, nada deixou de herança material e viveu na modéstia de um apartamento alugado de 70 m² em bairro de “segunda categoria”.
Valmor Bolan é doutor em Sociologia, professor, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras