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‘ESTRELISMO’ POLÍTICO

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Marcos Tonho
Elvis e o cartaz

 

‘ESTRELISMO’ POLÍTICO

Por questões mais ligadas à pandemia da Covid-19 e todas as suas consequências, esta coluna de cunho opinativo e político vem deixando de ser editada regularmente, desde que a crise sanitária se instalou em nosso país no ano passado. Simplesmente, depois de doenças na família, mortes entre amigos ou conhecidos, desalento, dor e todo o tipo de descaso à vida ou aos protocolos que procuram preservá-la, absolutamente não encontramos forças para ficar debatendo o “estrelismo” político que vem se apresentando desde então.

CUIDANDO DA VIDA

Neste momento, em vez de ficar debatendo os desmandos a que já estamos acostumados; às picuinhas em torno da “pandemia eleitoral”; às fake news difundidas por todos os lados; a quem tem culpa sobre meio milhão de mortes pelo coronavírus no país; optamos simplesmente por cuidar da vida: da nossa, daqueles que nos cercam; daqueles que amamos e, por que não, também daqueles que nem conhecemos, mas que merecem nosso respeito.
Tem sido melhor assim…

SAINDO DO EIXO

Mas, vira-e-mexe, essa classe política sai demais do eixo e nos provoca de tal forma, que não dá para ficar calado. Não dá para deixar de registrar.
É o caso recente, por exemplo, da decisão da Prefeitura de Santana de Parnaíba, e de seu prefeito – lógico – Marcos Tonho (PSDB), sobre o modelo da Campanha do Agasalho já iniciada oficialmente na cidade.

CAMPANHA DE MOTIVAÇÃO

Pois bem!
Em geral, para estimular a população a doar agasalhos nessa época de muito frio e vulnerabilidades sociais, a Prefeitura faz campanhas de divulgação, com publicações em jornais, em outdoors e outros veículos; além de cartazes e caixas coletoras de peças, sempre com o propósito de arrecadar mais, para atender a um público cada vez maior nessas condições.
Está tudo certo! Tem de ser por aí, mesmo! Motivar a população através de tais campanhas é o correto!

PADRINHO OU MADRINHA

Também de forma geral, ainda como forma de estimular um pouquinho por mais doações, as cidades escolhem personalidades do mundo artístico ou social e os elegem como “padrinhos” ou “madrinhas” dessas campanhas.
Também aí não há nada demais, apesar de que – em muitas vezes – os escolhidos nem são tão conhecidos assim. Mas, vá lá: a imagem de uma pessoa bonita, envolvente, influenciadora, pode, sim, ajudar a campanha de arrecadação.

O ELEITO

Neste ano, o prefeito Tonho e sua equipe do Fundo Social de Solidariedade simplesmente elegeram o ex-prefeito Elvis Cezar como padrinho da Campanha do Agasalho. Assim: para eles, o moço aparecendo num cartaz, vestido com cachecol e um sorriso, deve servir como o maior estímulo para arrecadação de peças de frio.

A SER INVESTIGADA

Obviamente irá aparecer quem concorde com tal visão ou quem discorde.
No nosso caso, aqui desta coluna, consideramos a medida ridícula, sem cabimento e até merecedora de algum tipo de investigação por parte de órgãos reguladores.

VARIEDADES E ENTREVISTAS

Vamos explicar rapidamente: Elvis, depois que deixou o cargo de prefeito na passagem de 2020 para 2021; e mesmo depois de ver sua esposa e seu irmão integrarem a equipe de secretários do prefeito Marcos Tonho, optou por seguir outro caminho, que não a política: já habituado com o processo de animação de público, manteve-se presente nas redes sociais e até “cavocou” espaço numa emissora de televisão para apresentar um programa de variedades e entrevistas.

CAMINHO DO SUCESSO

Assim, de ex-vereador e ex-prefeito por dois mandatos, Elvis virou um apresentador.
Pois é: tem lá seus fãs, seus seguidores nas redes sociais, faz sucesso ou não, isso é absolutamente indiscutível neste momento.
Talvez por acreditarem nesse novo papel social é que ele – agora como “apresentador” – foi escolhido para apadrinhar a campanha do agasalho.

TAMBÉM É MORADOR

Aliás, o cartaz já produzido com a foto dele vestindo um cachecol diz justamente isso: “Faça como o apresentador Elvis Cezar – Doe um agasalho”.
No material de divulgação da campanha distribuído à imprensa pelo setor de Comunicação da Prefeitura, ainda enaltecem que ele “também é morador de Santana de Parnaíba”.

PRECISA DISSO?

Ora, precisa disso? Prefeito da cidade por duas vezes, vereador, presidente da Câmara, com parentes empregados na Prefeitura, com o pai eleito deputado estadual por Santana de Parnaíba; daria para imaginar que Elvis sequer morasse na cidade?
Aí vem outra pergunta: e Elvis, com todo esse status, precisa disso? Precisa se submeter a isso para divulgar sua imagem?

CAMINHO DE VOLTA

É a partir daí que surgem as outras dúvidas e que, se lá na frente, forem confirmadas, deveriam ser alvo e objeto – já – dos órgãos fiscalizadores em outros níveis.
O primeiro exemplo é o seguinte: Elvis, todos sabem, ajudou Marcos Tonho a se eleger, são do mesmo partido (o PSDB), e existe a absoluta crença de que a presença do atual prefeito sirva apenas para preparar o caminho de volta de Elvis ao comando da Prefeitura, lá na eleição de 2024.

USANDO A MÁQUINA?

Não existe nenhuma ilegalidade nisso, hein! Sucessão de correligionários, mesmo que em condições esdrúxulas, são absolutamente legais no país.
Mas, se isso realmente ocorrer, já não estariam usando a máquina administrativa e recursos financeiros para promover a imagem do moço?

ANTES DISSO

Tem mais: há quem acredite que, mesmo antes de 2024, quando Elvis provavelmente se candidatará a novo mandato de prefeito, ele possa sair candidato já no próximo ano (em 2022) a um mandato de deputado estadual ou federal.
Também se trata de especulação; mas pioraria a situação de quem está aparecendo publicamente com recursos públicos a pouco mais de um ano antes do pleito, caso isso venha realmente a acontecer.

ESTÁ ATENTA?

Isso quer dizer que a Justiça Eleitoral, mesmo que ainda não haja nenhuma irregularidade, pode ficar bem atenta ao que vem pela frente. Mas será que a Justiça Eleitoral está realmente atenta ou a fim de?

OS CUSTOS

Outro aspecto a ser abordado é justamente a utilização de recursos públicos para toda essa campanha. Ninguém divulga absolutamente quanto está sendo gasto em cartazes, caixas coletoras, outdoors, anúncios, tudinho com a imagem do ex-prefeito – ou melhor – do “apresentador”.
Não se divulga, inclusive, se o moço recebeu algum cachê para virar modelo da campanha.

NINGUÉM CONFIRMAR

Sabe aquela estória que muito ouvimos sobre: “o cachê a ele destinado foi doado para não sei quem?”. É mera especulação: ninguém confirma que houve pagamento de cachê neste caso. Aliás, apesar dos questionamentos feitos diretamente à Prefeitura sobre o tema por este Página Zero, ninguém respondeu nada até o fechamento desta coluna.

DIREITO DA DÚVIDA

Ora, se não há pagamento de cachê, porque simplesmente não respondem? “Não houve pagamento de cachê”. Escreveríamos isso aqui neste espaço.
Mas como negam sequer a informação, nos reservamos ao direito de ficar na dúvida.
Aliás, com cachê ou não, a simples utilização de recursos para as outras peças publicitárias com a imagem do “apresentador” já deveria ser fiscalizada pelo Ministério Público (MP).

ESTÁ PREOCUPADO?

O MP poderia verificar, por exemplo, se foi gasto mais este ano do que em relação ao ano passado, só porque o novo modelo da campanha assim o sugere?
Mas, convenhamos: será que o Ministério Público está realmente preocupado com isso?

CAMPANHAS À VISTA

Aliás, e a comunidade organizada de Santana de Parnaíba: será que há alguém ligando para isso tudo?
Se não ligarem, cuidado: no Dia dos Pais, certamente a comunidade já saberá quem será o modelo da campanha, não?!
E no Natal, então? Coitado do Papai Noel…perderá o cargo para um novo modelo…

FURO N’ ÁGUA

Para finalizar, ainda existe o risco de a campanha virar um furo n’água. Sim, afinal, ao politizar o processo (esse termo “politizar” é nosso, ninguém está politizando se não houver o interesse político, claro!), quem não comunga da cartilha política do modelo simplesmente deixará de contribuir.

NÃO DEVERIA…

Uma tremenda besteira, é lógico, pois a política não deveria interferir nas decisões de se ajudar ao próximo; de agasalhar a quem tem frio; de dar teto ao desalentado; de dar comida ao faminto; de salvar vidas em meio a uma pandemia.
A política não deveria interferir…mas interfere!

PRECISARIA?

No final das contas, se pergunta: precisaria Elvis Cezar cumprir esse papel?
Precisaria o prefeito Marcos Tonho tomar tal decisão?
Precisaria a sociedade parnaibana presenciar tudo isso?