Aline Rodrigues
Vivemos em um tempo muito favorável, de facilidades e avanços. E tudo isso, graças às evoluções tecnológicas. As máquinas facilitam os trabalhos domésticos e especializados. A tecnologia nos trouxe uma ampliação do olhar e do conhecimento, jamais imaginado, e a internet nos conectou com tudo isso, inclusive nos aproximou de pessoas até já “esquecidas” em nossa memória.
É tão interessante poder pensar que hoje, através de uma busca, se pode encontrar um amigo de infância, um colega que estudou com você no ensino fundamental, e que juntos podem fazer memória daquele tempo, tudo de forma on-line. Outro grande benefício é a possibilidade de trabalho, de divulgação de um produto ou serviço pessoal, de ampliar seu campo de atuação, interação e conhecimento. Aliás, é graças às redes que você lê este texto!
A internet e as mídias sociais trouxeram tudo isso, que é muito bom! No entanto, fica a pergunta: como você tem se relacionado com essas tecnologias? Quanto tempo você tem investido ou desperdiçado diante da tela de um computador ou do seu smartphone? Qual é a primeira coisa que tem feito ao levantar da cama? Já observou que, nos últimos anos, você já levanta da cama com o celular na mão? Não consegue dormir com este pequeno aparelho longe do seu alcance, por ficar preso no discurso que precisa dele por conta do despertador?
No entanto, você esquece de observar que, ao longo de um dia inteiro, seu celular o acompanha como a própria sombra, sempre com uma desculpa diferente: “tenho que responder o whatsapp, estou trabalhando, estou pesquisando algo importante para comprar, estou resolvendo um problema, estou… estou… estou dependente dessa coisa e não percebi”.
Essa relação é tão viciante e séria, que tem chamado a atenção de muitos, a ponto de surgirem até mesmo novas doenças psicológicas que, creio, devam entrar na próxima edição do DSM (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais). Isso tudo porque, de fato, dentro do sistema cerebral, é acionado um mecanismo de recompensa, que gera prazer durante o tempo gasto nessas operações. Afinal de contas, pesquisamos, ouvimos, assistimos, seguimos e nos relacionamos, apenas com aqueles que pensam como nós e estão ali, nos “aplaudindo”, com seus comentários e curtidas.
A questão se amplifica e potencializa, quando a quantidade de tempo, curtidas, comentários e aplausos não são mais suficientes para gerar prazer. Daí, é preciso buscar mais, mais e mais… A melhor pose, a melhor frase, a informação mais quente, o mais… o mais… o mais… e, assim, um novo mecanismo é acionado: a ansiedade!
Houve um aumento significativo do transtorno de ansiedade, em especial o TAG (transtorno de ansiedade generalizada), que é a ansiedade por tudo! Tudo me dispara ansiedade, inclusive a não reação imediata do whatsapp que enviei, da foto que postei, da pesquisa que realizei, da compra que efetuei. O dedinho está sempre ali, “stalkeando” alguma coisa e o aparelho ligado.
A questão é, como algo que é tão bom pode se tornar ruim, a ponto de gerar uma doença psicológica? Será que esta era a intenção daqueles que iniciaram esses projetos? Especialmente as mídias sociais? Essa questão foi levantada no documentário “Dilema das Redes”, que mostra todo o efeito das redes sociais no comportamento do ser humano e que provoca um olhar diante do espelho, dessa nossa relação com elas. Vale a pena assistirmos e revermos nossa postura. Nossos recursos tecnológicos são bons, mas devem ser usados com moderação!
Aline Rodrigues é psicóloga, especialista em saúde mental e missionária da Comunidade Canção Nova. Atua com Terapia Cognitiva Comportamental; no campo acadêmico, clínico e empresarial