Humberto Pinho da Silva
Que cada um vale o que valer seu lugar, na coletividade, é verdade incontestável. Não só o lugar ou cargo que ocupa, mas, também, o local onde nasce; a família que pertence; o sobrenome que possui; a escola que frequentou; o grau académico que obteve; o dinheiro que tem; e até o título de nobreza que herdou, contam, definitivamente, como somos avaliados, pelo vulgo e pela elite.
Recordo ter lido – há muitos anos – que senhora era recebida principescamente onde se hospedava porque, ao registá-la, o pai deu-lhe o nome de princesa.
Conhecido clássico da nossa literatura, cujo nome se varreu completamente da memória, escreveu: “O zero vale consoante o lugar que ocupa: à direita ou à esquerda do cifrão”. Cito de cor, mas o sentido é esse.
Dom Francisco Manuel de Melo, em “Relógios Falantes”, narra o diálogo travado ente o Relógio do Paço e o Relógio das Chagas.
O do Paço era considerado; todos se guiavam por ele.
O das Chagas passava por mentiroso.
Um dia, ambos se encontraram no relojoeiro. Ao devolvê-los, trocaram-nos.
O Relógio do Paço passou a ser por todos mentiroso; o das Chagas, que era ordinário e de mau fabrico, passou a ser “tão benquisto de verdadeiro”. O Relógio do Paço, por sua vez “Subindo ao seu campanário ficou tão aceite, como sendo Relógio das Chagas, era murmurado”.
Assim acontece com os homens: avaliados consoante o lugar que ocupam na sociedade…e até pelo partido que militam. Sabe Deus com que convicção.
Competência, mérito, sapiência, em regra, para nada servem se não houver “pistolão” amigo, como dizem os brasileiros e outras coisas mais… como dizia Cruz Malpique.
Humberto Pinho da Silva é editor do blogue luso-brasileiro ‘Paz’