Prof. Dr. Valmor Bolan
As profundas mudanças que o mundo vem vivendo certamente afetarão a vida de todos, mas temos o desafio de estarmos atentos para preservarmos o que há de mais humano em nossa vida. A tendência é cada vez mais ficarmos dependentes de dispositivos tecnológicos, mas não podemos ficar reféns disso. A tecnologia deve nos auxiliar a vivermos melhor, e não nos escravizar a um estilo de vida desumano. Na Educação, também percebemos o fenômeno crescente da virtualização, favorecendo já há algumas décadas o crescimento do ensino à distância. Ainda sabemos pouco como tudo isso impactará em nossas vidas, no futuro próximo, quais os efeitos em nossos relacionamentos, etc. Mas é certo que estamos numa época de grandes transformações e precisamos nos adaptar à nova realidade, aproveitando o que ela traz de melhor e evitar os abusos no uso de tais tecnologias.
“O virtual não pode ser tudo, porque se for tudo, a vida não faz sentido”, diz o economista francês Cédric Duran. Muito das nossas atividades poderão ter mais qualidade e deverão ser melhor planejadas. E acrescenta: “Com a possibilidade de acesso à informação que temos, tudo muda. É muito fácil ter a informação em termos reais de um lado ao outro lado do país, fazer correções”. Traz melhoras também no planejamento, nos investimentos, etc. “Com os algoritmos que sabem mais de nós do que nós mesmos, existe a possibilidade de um esmagamento das individualidades e de uma grande dominação das empresas privadas e públicas. A outra possibilidade é ir além de nossas limitações individuais”.
“Temos muitas decisões, muitas ideias que não sabemos de onde vêm e, por isso, usar as máquinas, usar o conhecimento que os outros possuem para agir de forma mais inteligente pode parecer interessante”. O papel da inteligência artificial nesse contexto é também desafiador e traz preocupações sobre os limites de sua aplicação. Temos que saber lidar com essa nova realidade, ajustando as coisas e buscando cada um dar o melhor de si na compreensão do tempo em que vivemos (e das possibilidades existentes) e da utilização dos recursos para o aprimoramento das nossas atividades, especialmente no campo da Educação.
O mais importante é sabermos que o virtual não é tudo, ele está aí para auxiliar, acrescentar, mas não substituir os relacionamentos humanos. O que precisamos é manter a nossa humanidade, sem que a tecnologia comprometa a nossa dignidade.
Valmor Bolan é doutor em Sociologia, professor, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. É pós-graduado em Gestão Universitária pela Organização Universitária Interamericana, com sede em Montreal, Canadá