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A guerra e o frade redentorista

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Humberto Pinho da Silva

O incrível aconteceu: na velha e supercivilizada Europa, em pleno século XXI, explodiu hedionda guerra, verdadeira e sangrento genocídio.
Uns, de cátedra, dizem que a terra é deles; outros asseveram: o povo tem o direito de escolher, democraticamente, o governo e ideologia que querem seguir.
A minha geração batia-se e defendia encarniçadamente que os povos deviam ser livres. Os velhos impérios e o colonialismo tinham que ser varridos da face da Terra. Eram os ventos da História. Os ventos mudaram e parece que a definição de liberdade e democracia também se vão desnudando… são ventos variáveis.
Mas não é da guerra, nem dos beligerantes que quero falar, mas sim do deplorável caso que me contou o Sr. Martins, enfermeiro do antigo Hospital da Misericórdia de Gaia: numa calma e cristalina manhã, banhada de sol – era ainda adolescente – tendo que fazer o habitual curativo, fui ao posto do enfermeiro-chefe. Este, depois de cuidar do ferimento, contou-me o seguinte: frade, do Seminário de Cristo Rei, compareceu acompanhado de sacerdote redentorista, com os joelhos em estado lastimoso. Constrangido, o sacerdote contou concisamente que o humilde discípulo de Afonso Maria de Ligório ouvira no parlatório que no Oriente havia sangrenta guerra.
Condoído, permaneceu de joelhos durante horas, em piso irregular, em fervorosa oração, a ponto de lhe arrebentarem os joelhos.
O Sr. Martins – homem pouco crente – ao contar-me a ocorrência, tinha os olhos embaciados, e notava-se pela voz apertada que as palavras trancavam-se na garganta: – “Ainda há gente boa! Avaliando o estado a que se encontravam os joelhos, posso calcular o lancinante sacrifício que o ingênuo homem fez, e as dores que sofreu”, disse.
Enquanto oligarcas e políticos convivem em fausto, indiferentes à dor e necessidade dos povos, para satisfazerem vaidades e orgulho, ainda há gente humilde, recolhida em silencio, que sofre com cilícios e penitências, esperando que a divina providência alcance a paz e a concórdia entre os povos.

Humberto Pinho da Silva é editor e responsável pelo blogue luso-brasilero “Paz”