Bicentenário da Independência com contornos eleitorais celebra história de autonomia do Brasil em relação a Portugal
Em meio a uma campanha política que definirá novos governantes neste ano de 2022, mas que desde há alguns anos vem se desenrolando pelo país, candidatos ou políticos de algumas frentes ou partidos pretendem “adotar” para si o dia 7 de Setembro como bandeiras próprias de ideologia que possam naturalmente serem revertidas em votos nas urnas.
A população brasileira deve se lembrar, naturalmente, que a data não pertence a ninguém e que o dia dedicado a comemorar a Independência do Brasil retrata justamente a luta da população pela liberação das amarras que o país sofria quando era colônia de Portugal.
Neste ano, inclusive, o Dia da Independência tem ainda maior valor, pois a data chega à célebre marca de 200 anos de emancipação, razão pela qual as comemorações devem ainda ganhar maior corpo em todo o país; além daquela que inegavelmente ocorrerá em razão da campanha política-eleitoral.
A ‘’FUGA’
O grande marco da independência foi o grito proferido por Pedro de Alcântara (depois tornado Dom Pedro I) às margens do rio Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. O processo de separação dos colonizadores portugueses, no entanto, deve ser entendido à luz dos acontecimentos na Europa no início do Século XIX.
Naquele momento, Napoleão Bonaparte dominava quase a totalidade da Europa Ocidental e tinha como sua principal inimiga a Inglaterra. Em 1806, ele determinou que as nações europeias fechassem portos para as embarcações inglesas, com o objetivo de enfraquecer economicamente sua rival – essa medida ficou conhecida como Bloqueio Continental.
Portugal não desejava romper as relações com a Inglaterra, que era um importante parceiro comercial do país, daí a decisão de D. João VI, Príncipe-Regente de Portugal e pai de Dom Pedro, em transferir a corte portuguesa para o Brasil, garantindo aos ingleses o acesso ao mercado brasileiro e a manutenção de sua coroa. Para muitos, a atitude foi retratada como uma fuga das ações de Napoleão Bonaparte.
O RETORNO
A chegada da família real ao Brasil deu início a uma série de mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais no país. A Coroa portuguesa decretou a abertura dos portos para comercialização e fez investimentos em educação e cultura. Em 1.815, Dom João elevou o Brasil à condição de reino unido; isso significava que o Brasil deixava de ser colônia e passava a fazer parte do Reino de Portugal. Esse foi um dos importantes marcos para a concretização da independência anos mais tarde.
Uma vez terminado o perigo napoleônico, em Portugal crescia a insatisfação com a permanência da coroa o Brasil. Portugal enfrentava forte crise política e econômica internamente e sua população não estava satisfeita com as liberdades econômicas que o Brasil vinha conquistando.
Em 1820, eclodiu a Revolução Liberal do Porto, um movimento que exigia o retorno da família real a Portugal, a instituição de uma Constituição e o retorno do Brasil à condição de colônia. Em abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal e deixou Dom Pedro como regente do Brasil.
O ‘FICO’
Durante essa regência de Dom Pedro, várias medidas impopulares – como o aumento dos impostos – foram adotadas por Portugal, o que foi aumentando a insatisfação dos que estavam no Brasil, alimentando o desejo pela autonomia.
Em dezembro de 1821, D. Pedro recebeu uma ordem para que retornasse a Portugal. Como reação a esse pedido, em janeiro de 1822, durante uma audiência no Senado, recebeu uma petição assinada por 8 mil pessoas pedindo para que permanecesse no Brasil. Foi no dia 9 de janeiro de 1822, também conhecido como o Dia do Fico, que D. Pedro proferiu a famosa frase: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”.
‘INDEPENDÊNCIA
OU MORTE’
Portugal insistia em manter o domínio sobre o Brasil e, em 28 de agosto de 1822, enviou ordem para que o príncipe regente voltasse. A princesa dona Maria Leopoldina, esposa de D. Pedro, a recebeu e se convenceu sobre o rompimento com Portugal: convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado, assinou a Declaração de Independência e a enviou a D. Pedro, que viajava para São Paulo. Dom Pedro recebeu a carta em 7 de setembro, quando estava às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Acredita-se que, nesse momento, D. Pedro tenha dito a famosa frase: “independência ou morte”, porém não há evidências históricas que comprovem esse brado.
Para tornar-se independente de Portugal, o Brasil teve ainda de pagar indenização de 2 mil libras esterlinas ao país, recorrendo a um empréstimo dos ingleses, aliados comerciais.
EM BRASÍLIA
Em todo o país, o 7 de setembro é celebrado como a maior festa cívica, em feriado nacional que mobiliza autoridades públicas, militares, e a sociedade civil em desfiles que procuram demonstrar e enaltecer as qualidades do Brasil independente.
Depois de dois anos sem ser realizado presencialmente por causa da pandemia de Covid-19, o tradicional desfile cívico-militar de 7 de Setembro volta a ocupar a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O retorno ocorre no ano histórico em que se comemora o Bicentenário da Independência do Brasil.
São esperadas cerca de 280 mil pessoas no evento que está previsto para começar às 9 horas e deverá se estender até as 11h30, contando com a presença já tradicional das forças militares, das escolas de Brasília, das escolas militares e até com um grupamento de tratores, além do desfile aéreo da Esquadrilha da Fumaça.
OSASCO: NOVO TRAJETO
Na região Oeste da Grande São Paulo, até o fechamento desta edição duas cidades havia divulgado a programação dos desfiles de 7 de Setembro.
Em Osasco, a organização fica a cargo da Secretaria da Educação, que neste ano adotou o tema “Bicentenário da Independência do Brasil – Osasco uma jovem cidade vivendo o futuro”.
Cerca de 17 mil estudantes desfilarão pela avenida dos Autonomistas envolvendo escolas municipais, estaduais e particulares; além de faculdades e integrantes da Polícia Militar, Guarda Civil, Corpo de Bombeiros, Exército e entidades da sociedade civil.
Como de praxe, a festividade acontece às 7 horas da manhã na Câmara Municipal, com o encontro de autoridades para o hasteamento das bandeiras. Em seguida, todos seguem para a esquina da Autonomistas com a rua Antônio Agu, onde se iniciam os desfiles.
A novidade deste ano é que, em vez de o desfile seguir em direção à Vila Yara, como de costume, ele terá o sentido oposto, na direção do bairro do Km 18. De acordo com a Prefeitura, a mudança foi feita para desimpedir o tráfego de veículos no principal trecho da avenida dos Autonomistas, onde estão os principais acessos ao Centro da cidade (como o viaduto metálico, a rua Primitiva Vianco e a avenida Maria Campos), além de importantes hospitais.
BARUERI: SEMANA DA ARTE MODERNA
Em Barueri, a estrutura para o desfile de 7 de Setembro está montada em frente ao Ginásio José Corrêa, no Centro da cidade e, assim como nas demais localidades, também não era realizado desde 2019, por causa da pandemia de Covid-19.
O tema escolhido para este ano é o centenário (100 anos) da Semana de Arte Moderna, oportunidade em que terão destaque os principais artistas e obras de arte que marcaram o importante período, tudo sob os cuidados da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) em parceria de outras secretarias e instituições.
Para dar início às comemorações, às 8 horas acontece o hasteamento de Pavilhões na Câmara Municipal, seguido da revista à tropa. Em seguida, por volta das 8h30, o palanque instalado em frente ao ginásio José Corrêa recebe o desfile com cerca de 1 mil estudantes, dentre tantas outras instituições e entidades militares e da sociedade civil em geral.
Reabertura do Museu do Ipiranga
Para o público paulista e paulistano, uma das principais notícias ligadas ao 7 de Setembro é a reabertura do Museu do Ipiranga, depois de nove anos fechado para o público com o objetivo de ser reformado. A quarta-feira, dia 7 de setembro, o espaço abrirá as portas para escolas públicas, trabalhadores da obra e suas famílias. Já no dia 8 de setembro, o museu será aberto ao público.
O Museu do Ipiranga foi fundado em 1895, com projeto elaborado e executado pelo engenheiro e arquiteto Tommaso Gaudencio Bezzi, italiano radicado no Brasil.
A reforma acontece desde o seu fechamento, 2013, ao custo de R$ 235 milhões, justamente para ser entregue neste ano por conta da celebração do bicentenário da Independência do Brasil.
O Novo Museu do Ipiranga reabrirá com o dobro do tamanho e terá capacidade para receber até 11 exposições simultâneas. A estimativa é que o espaço receba de 900 mil a 1 milhão de visitantes por ano.
Do total investido, R$ 183 milhões são oriundos da Lei Rouanet, ferramenta de fomento à cultura no país, por meio da qual os projetos recebem uma chancela federal que se reflete em isenções fiscais a apoiadores da ação, quer sejam empresas ou cidadãos comuns. Além dos recursos federais, foram feitos aportes pelo governo do Estado de São Paulo (que investiu R$ 34 milhões) e por empresas particulares.
O Museu do Ipiranga está estabelecido na rua dos Patriotas, 20, Vila Monumento, região do bairro do Ipiranga, na Capital paulista.