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Que futuro nos espera?

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José Renato Nalini

A futurologia não é ciência. Mas atrai a atenção daqueles que gostam de vaticinar. Numa divisão singela, poder-se-ia pensar em duas categorias de futurólogos. Os otimistas – em número reduzido – e os pessimistas, que formam legião. Os primeiros acreditam na evolução natural da humanidade. Ela cresceria idealmente numa espiral concêntrica. A cada volta, uma ascensão rumo à perfectibilidade. Os pessimistas acenam com o mundo pior à medida em que se vê adensado, com o exaurimento dos recursos naturais, a inconsequência dos que não se preocupam com o amanhã e gravitam em torno a si mesmos.
Na minha adolescência, dois livros me impressionaram: o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley e o “1984” de George Orwell. O que parecia ficção foi ultrapassado pela realidade científica e tecnológica. Viver nos proporciona surpresas contínuas. Qual seria a reação daqueles que deixaram esta esfera há meio século e voltassem hoje ao nosso convívio?
Inimaginável a sua estupefação. Sente-se que é impossível prever o amanhã e que a única certeza é a de que o inesperado está de tocaia, para nos deixar boquiabertos.
Hoje, o que ler para vislumbrar o que nos aguarda logo mais?
Os pessimistas levam inegável vantagem. Partem da análise de dados comprovados, todos a demonstrar que estamos nos comportando temerariamente em relação ao nosso único habitat, a Terra. Leiam “Nomad Century”, algo como “O século nômade”, escrito por Gaia Vince e publicado pela Flatiron Book. Leva-se um susto: legiões de humanos serão forçadas a migrar, pois o aquecimento do planeta chegará a uma sucessão de dias com temperaturas acima dos perigosos cinquenta graus centígrados. Estes já são mais do que o dobro de trinta anos atrás.
Outro livro interessante é “Disorder” (Desordem), de Helen Thompson, editado pela Oxford University. O mau uso da política leva o globo a uma crescente instabilidade, o que não é bom para ninguém.
Algo mais leve é a leitura do sociólogo Domenico De Masi, principalmente “O ócio criativo” e “O futuro chegou”. Interessante, mas não consigo me convencer de que o presente nos trouxe mais tempo para o lazer, para o entretenimento, para aquilo que realmente nos agrada. Mas reconheço que pode ser defeito meu, sempre inquieto e à procura de novos desafios, do que um difícil ajuste à realidade das coisas e do tempo.

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras