Aline Rodrigues
A palavra “reclamar” vem do latim “reclamare” que significa gritar, protestar contra. Algo que pode ser bom, a depender da circunstância, mas ruim caso se trate de um comportamento vicioso, um mau hábito. Tudo dependerá da consequência após a reclamação.
Quem nunca ouviu falar naquele ditado popular: “Quem não chora, não mama?” Afinal de contas, aprendemos desde cedo que pela repetição do choro, obtemos o que é necessário, ou seja, é através da “reclamação” que conseguimos o que queremos.
Percebe quanto o ato de reclamar está impregnado em muitos de nós, e nem notamos? O comportamento de reclamar nasce na infância, quando aprendemos que pedir mais de uma vez, por vezes gritando, protestando, faz com que se tenha o que é desejado.
É como se acionássemos um mecanismo de “recompensa” sempre que o modo reclamar entra em ação. Essa é uma forma explícita daqueles que possuem o hábito de reclamar. No entanto, existe também o ato de reclamar para chamar a atenção. E como é isto? São frases que têm como objetivo voltar o olhar para si, normalmente provocando um sentimento de pena, por ter como pano de fundo um pedido.
Por exemplo: “Nossa, estou tão cansada, mas tenho um tanto de roupa para passar”. Perceba que nessa frase nem parece que a pessoa está reclamando, muito menos que está pedindo algo. Mas uma frase como essa comunica um quadro de reclamação a respeito do estado de cansaço associado a um pedido implícito de “bem que você poderia passar esta roupa para mim”.
Outra maneira que a reclamação pode ocorrer é pelo vício de linguagem, quando a pessoa fala, fala, fala, reclama, reclama, reclama, sem saber a causa exata da reclamação. Isto é: o faz apenas por ter adquirido esse mau hábito.
Nesse caso, independente do que aconteça, da resposta que se obtenha após uma reclamação, ela não cessa. Pode ser que a pessoa encontre alguém que venha a “cortar” sua fala reclamatória, que diga: “Ah, pare de reclamar” ou, “Você reclama de barriga cheia” ou coisas nesse sentido. Pode ser que ela concorde e até pare de reclamar naquele momento. Mas tão logo encontre um novo par de ouvidos, a reclamação volta para os seus lábios, pois é essa repetição que configura o que é a reclamação.
Porém, viver ao lado de uma pessoa reclamona é muito ruim, pois desgasta qualquer relacionamento. Pensando nisso, lanço aqui um desafio: tentarmos ficar trinta dias sem reclamar, murmurar, ou ficar se lamentando. Assim perceberemos que somos capazes de mudar esse comportamento, que parece inofensivo, mas mata aos poucos, pois desgasta demais. Dominar a má inclinação da murmuração, da lamentação, ajuda a criar resiliência e enxergar para além dos próprios problemas.
Bom desafio pra você!
Aline Rodrigues é psicóloga, especialista em saúde mental e missionária da Comunidade Canção Nova. Atua com Terapia Cognitiva Comportamental, no campo acadêmico, clínico e empresarial