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Pasto degradado não ajuda

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José Renato Nalini

O Brasil especializou-se em produzir comodities. Grãos para alimentar gado estrangeiro e carne para alimentar outros povos. Para isso, destruiu florestas que primeiro serviram para o plantio de soja e, em seguida, com a terra extenuada, se converteram em pastos.
Só que pastos também degradam. Quando não servem mais para apascentar gado, são convertidos em deserto. E deserto não serve para nada. Ou seja: nem para acolher bois, nem para produzir alimento, menos ainda para resgatar a qualidade de vida exterminada junto com as árvores incineradas.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) produziu um estudo, junto ao seu Centro de Bioeconomia, que apurou que quase vinte por cento da área total do país – ou cerca de 160 milhões de hectares – é integrada por pastos. Mais da metade desses pastos, ou – mais exatamente – 52%, está degradada. É científica a constatação de que pastagem saudável torna mais rentável o agronegócio. Não é preciso invadir florestas para manter a produtividade da pecuária.
A cultura ESG, que simultaneamente contempla a preservação do ambiente, a redução das desigualdades e a governança corporativa, é a solução para a destruição da cobertura vegetal e o aumento da emissão de gases venenosos que geram o maléfico efeito-estufa. O pecuarista inteligente e antenado com as exigências do mercado internacional lucraria mais se cuidasse de recuperar pastos.
Não se está pleiteando que todos os pastos em declínio se transformem na floresta que um dia ali existiu. Não: o que se propõe é que mediante uso de sementes, se adube o solo para resgatar sua fertilidade. Solos degradados não produzem o ideal, nem mesmo o necessário.
A FGV prova que a recuperação da pastagem é um excelente negócio. Se o Brasil quisesse restaurar 15 milhões de hectares, gastaria R$ 21,17 bilhões, mas as receitas disso resultantes atingiriam R$ 36,77 bilhões. Rentabilidade muito superior ao investimento. Com as vantagens de se poder ganhar com a venda de créditos de carbono.
O estudo da FGV encontrará eco na consciência do potente agronegócio brasileiro?

José Renato Nalini é reitor universitário, docente de pós-graduação e presidente da Academia Paulista de Letras