Andrea Ladislau
As recomendações disseminadas nas redes sociais, nos livros, nas músicas e em tudo o que se refere ao social, é: seja feliz. Esteja sempre feliz. No entanto, quando encaramos esse estado de felicidade e ignoramos os desafios naturais da vida, certamente, corremos o risco de desenvolver a positividade tóxica.
Um novo hábito que busca olhar para o leque de emoções vividas pelas pessoas, afirmando que apenas os sentimentos felizes são aceitos em detrimento aos desagradáveis. Uma negação da tristeza, motivada por uma visão extremamente otimista da vida. Uma tentativa de escapar dos problemas. Mas e quando a maternidade se choca com essa positividade?
Pensando no mês das mães, momento em que reverenciamos o gerir da vida, não podemos esquecer que essa maternidade, muitas vezes, é romantizada. A romantização do materno se dá de forma angelical, sem respeitar e sem permitir que seja verbalizada a dor, o cansaço, a saudade, a exaustão, os medos e, principalmente, a insegurança contida nessa nova condição da mulher.
Os olhos se fecham para reconhecer que sim, a maternidade é maravilhosa, mas não o tempo todo.
Onde está escrito que a mulher tem que estar feliz a todo custo? Em muitos casos, as mães relatam julgamentos em momentos dolorosos, do tipo: “calma, vai passar. Você deveria estar feliz. Afinal, filho é uma bênção”. Frases muito cruéis, que fazem com que elas se sintam mais sozinhas e inadequadas, do que apoiadas e compreendidas.
Em tempos modernos, trazemos o endeusar da maternidade para a exposição de exemplos e rotinas maternais perfeitas nas redes sociais que, sem sombra de dúvidas, aumenta ainda mais a cobrança e a culpa eterna dessa mulher. Um cenário onde tudo é perfeito e os sentimentos aceitáveis ou permitidos. E fatalmente, assim nasce a culpa por não estar sempre feliz, agradecida e completa com a maternidade.
Surge o questionamento do amor e de sua utilidade, por às vezes achar tedioso realizar tarefas repetitivas com o bebê, além do medo de contar que sentiu alívio ao retornar ao trabalho, por exemplo. Isso acontece porque, infelizmente, nossa cultura não dá muito espaço para não estarmos bem. Há uma expectativa cruel e irreal, de que uma mulher só pode estar feliz e realizada ao se tornar mãe.
Fato é que, por mais que você tenha desejado e planejado seu bebê, isso não é garantia de que você viverá em céu de brigadeiro sempre. O que precisa é trabalhar esse sentimento, minimizar os desconfortos, verbalizar o que incomoda e não se culpar.
Portanto, permita-se experimentar todas as transformações da mulher tão humana que está nascendo. Viva a dor e a delícia de ser o que é, dentro da sua realidade, do seu contexto. Você é única e seu bebê também, portanto, permita-se chorar, gritar, sofrer, viver e ser real.
Essa maternidade real passa por esse conceito de viver todas as experiências que essa nova vida lhe traz. Viver o que é positivo, viver o que é negativo. A maternidade real vem com um combo de alegrias e angústias, mas com experiências únicas e diferenciadas. Cada mulher vai viver essa experiência de uma forma, para umas poderá ser mais prazerosa, enquanto que para outras poderá vir carregada de medos e dores.
O ideal é fugir da positividade tóxica, seja na maternidade ou não. Aprender a nossos sentimentos e ser fiel a eles, com respeito e acolhimento para evitar somatizações.
Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital; é palestrante e membro da Academia Fluminense de Letras