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Papa Francisco aberto para o futuro

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Prof. Dr. Valmor Bolan

O escritor e jornalista britânico Austen Ivereigh é pesquisador em História da Igreja Contemporânea no Campion Hall, na Universidade de Oxford, e publicou recentemente um livro com uma entrevista com o papa Francisco, intitulado: “Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor” (Intrínseca, 2020). A obra publicada acontece com 10 anos de um pontificado transformador na vida da igreja, o que mostra a capacidade da mais antiga instituição da história de se renovar e contribuir com os desafios de cada geração, estando presente na vida das pessoas de todos os países do mundo.
Mesmo em meio a tantas controvérsias, de correntes internas da igreja que aparentemente se divergem, o papa Francisco tem sido capaz de dialogar e de agir, com o olhar mais para o futuro do que para o passado. Diz Austen Ivereigh que “até pouco tempo atrás, onde o Vaticano era conhecido pela sua arrogância, seu centralismo e seu autoritarismo, existe agora um clima de serviço e de liberdade. O fluxo constante de diretrizes emitidas sem antes envolver as partes secou há muito tempo. As poucas diretrizes que o Vaticano emite hoje em dia seguem consultas extensas e pacientes. Roma não usa mais denúncias anônimas (“delações”) para disciplinar os bispos, e é difícil lembrar de um único caso na última década em que a ortodoxia de um teólogo foi posta sob julgamento”. Clima este descrito por Ivereigh contestado por grupos mais conservadores e tradicionalistas, mais voltados para o passado e que têm dificuldade em “descompreender” o tempo presente, com uma realidade cada vez mais complexa e que requer a humildade da escuta, para encontrar a melhor forma de evangelização. E acrescenta Ivereigh: “A governança papal agora não é remota e impessoal, mas “colegial” – isto é, em parceria com o colégio dos bispos por meio de consultas regulares e trocas de fluxo livre. O Sínodo dos bispos não é mais administrado pela Cúria para impedir a discussão aberta e censurar o questionamento, mas se tornou um autêntico mecanismo de discernimento”. E ainda, ressalta que “a unidade já não se impõe pela coerção da uniformidade, mas é o dom que brota da comunhão, que se torna possível por uma cultura da reciprocidade e da escuta recíproca (quando os atos jurídicos foram necessários – vem à mente a regulamentação da missa tradicional em latim por parte do papa Francisco em 2020 – foi para colocar limites que defendam essa cultura)”.
É assim que o papado de Francisco vai deixando a sua marca, de quem está aberto para o futuro.

Valmor Bolan é doutor em Sociologia, professor, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. É pós-graduado em Gestão Universitária pela Organização Universitária Interamericana, com sede em Montreal-Canadá