José Renato Nalini
O ser humano se adapta à rotina e resiste à mudança. Natural, porque toda mudança é traumática. Mas ninguém segura a ventania com as mãos. Principalmente quando ela é um verdadeiro tsunami, como aquele produzido pela profunda mutação gerada pelas tecnologias da comunicação e informação.
Há setores que absorvem os avanços e obtêm formidáveis resultados. A saúde, por exemplo. Hoje, a telemedicina é uma realidade insubstituível. Há prontuários eletrônicos, exames que são localizados em bancos de dados e que dispensam a impressão das imagens e diagnósticos, a carteira de vacinação digital, o ConectSUS, aquele aplicativo que contém toda a trajetória do usuário no SUS. Isso é muito bom e deveria ser utilizado em outros setores.
O universo do sistema Justiça é um dos mais conservadores e ainda se submete a consciências retrógradas. Como aquelas que obrigam a presença física do servidor, em lugar de se satisfazer com o que ele produz. É óbvio que a desnecessidade de deslocamento do funcionário de sua casa para o Fórum atende a uma série de conveniências. Economiza-se o tempo de se vestir com roupas de trabalho, quando em casa se pode ficar mais à vontade. Economiza-se o tempo de deslocamento. O que a natureza agradece, porque é menos poluição na atmosfera. Economiza-se a paciência do servidor, trancado num ambiente para completar suas horas, como se a permanência fosse mais importante do que o trabalho prestado.
Já passou da hora de se substituir o controle de frequência por monitoramento de resultados. Por que fiscalizar quantas horas o funcionário fica sentado em sua cadeira, às vezes perdendo tempo com conversas inúteis, levantando-se de quando em vez para ir à toalete, saindo para as refeições, verificando as mensagens na internet, quando é mais fácil avaliar se ele está cumprindo as funções para as quais preordenado?
O mesmo se aplica aos magistrados. Por que fazê-los diariamente comparecer ao local de trabalho, se não atenderia mais e melhor ao interesse público acompanhar a confecção de decisões?
A obsolescência, de que tanto se fala na área tecnológica, está mais na cabeça dos que possuem autoridade para imprimir novo ritmo e nova filosofia ao serviço público, do que nas máquinas. Essas se atualizam. Aquela, nem sempre.
José Renato Nalini é diretor universitário, docente de pós-graduação e secretário-geral da Academia Paulista de Letras