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A ignorância por escolha

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Mario Eugenio Saturno

É nato ao ser humano compartilhar informações úteis ou, simplesmente, para entretenimento, desde o capítulo da novela à descoberta de um planeta habitável na estrela mais próxima de nós, passando pela importância do novo Missal católico.
Há também muitas pessoas com opinião para tudo, julgam-se capazes de distinguir o Bem, o Bom e o Certo e orientar os demais, ou seja, arrogam- se saber, a já conhecida arrogância. E alguns se julgam conhecedores profundos, não conseguem enxergar a própria ignorância, é o Efeito da Superioridade Ilusória, como muitos radicais políticos e religiosos.
Mas tem outro tipo de pessoa que opta pela ignorância, evita informações sobre as consequências negativas de suas ações, pensa apenas nas suas vantagens pessoais. É o que trata do artigo “Ignorância por Escolha: Uma Revisão Meta-Analítica das Motivações Subjacentes da Ignorância Voluntária e Suas Consequências” de Linh Vu e outros cientistas.
Conhecido como ignorância voluntária (Dana, 2007 e outros papers), é um comportamento que reduz o altruísmo. Por exemplo, os consumidores podem evitar informações sobre o processo de produção das mercadorias que compram (Ehrich & Irwin, 2005), como os tênis daquela marca. Da mesma forma, os cidadãos frequentemente relutam em informar-se sobre as mudanças climáticas para que não sintam a obrigação de mudar seu estilo de vida (Stoll-Kleemann, 2001).
A ignorância voluntária também facilita a corrupção na política e nos negócios. No escândalo Watergate, muitos mostraram uma fé intensa no poder imunizante da ignorância deliberada e no julgamento da Enron, o maior caso de corrupção na história dos EUA, o conceito de ignorância voluntária desempenhou um papel fundamental na sentença dos principais executivos (Simon, 2005).
Compreender seus impulsionadores (drivers) e consequências é vital, dados os resultados prejudiciais que se observa. A ignorância voluntária foi estudada na psicologia, sociologia, economia, negócios, direito, filosofia e ciência política. E esse trabalho sintetizou empiricamente a evidência existente.
As pesquisas anteriores abordaram resultados monetários, do egoísmo ou altruismo, e preocupações com eficiência, equidade ou desigualdade. Resultados das meta-análises e análises de doações de caridade nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha sugerem que as mulheres são mais altruístas do que os homens. E o altruísmo aumenta com a idade.
Descobriu-se que os idosos mais frequentemente doam todo o seu patrimônio, os participantes de meia-idade doam metade de seu patrimônio, e os estudantes são os mais propensos a não doar nada. Teoricamente, as pessoas mais jovens são mais centradas em si mesmas do que as pessoas mais velhas, devido à sua falta de recursos ou sua perspectiva diferente sobre o tempo.
No geral, a meta-análise testou as previsões feitas pela teoria da ignorância voluntária e determinou a robustez desse comportamento avaliando como moderadores relevantes moldam as motivações altruístas ou a busca de desculpas. O que os olhos não veem, muitos sentem.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano