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Embrião humano artificial

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Mario Eugenio Saturno

Em setembro do ano passado, a revista Nature publicou uma pesquisa mostrando que cientistas do Instituto Weizmann de Israel criaram um modelo de embrião humano sem usar esperma e óvulo, feito a partir de células-tronco. O resultado parece um embrião real de 14 dias de idade.
A equipe de pesquisadores programou 120 células-tronco embrionárias imaturas, que podem tornar-se qualquer tipo de tecido do corpo, e depois usou produtos químicos para estimular essas células-tronco a se tornarem quatro tipos de células encontradas nos estágios iniciais do embrião humano: epiblásticas (tornam-se o embrião), trofoblásticas (placenta), hipoblásticas (saco vitelino) e extraembrionárias do mesoderma.
Estimam que cerca de 1% dessas células desencadeou a montagem automática de células em uma estrutura que se assemelha a um embrião humano, e que esse modelo de embrião criado artificialmente liberou hormônios que tornaram um teste de gravidez positivo no laboratório.
A pesquisa publicada foi anunciada como um meio de entender melhor o surgimento de tipos celulares e o desenvolvimento de órgãos humanos, além de ajudar os pesquisadores a estudar doenças genéticas e potencialmente melhorar as taxas de sucesso da fertilização in vitro (FIV).
A pesquisa vai além de um estudo semelhante publicado em junho, no qual uma equipe da Universidade de Cambridge e do Instituto de Tecnologia da Califórnia criou um modelo semelhante sem o uso de espermatozoides ou óvulos, mas sem alcançar o grau de semelhança do modelo do Weizmann.
Pode-se ler ainda na Nature que a capacidade de estudar o desenvolvimento humano pós-implantação permanece limitada devido aos desafios éticos e técnicos associados ao desenvolvimento intrauterino após a implantação. E que ainda estão ausentes no modelo: disco embrionário, disco bilaminar, sacos vitelínicos e coriônicos e trofoblastos circundantes.
Recentemente, células-tronco embrionárias imaturas de camundongo foram capazes de dar origem a células-tronco embrionárias e extraembrionárias capazes de auto-organização em modelos de embriões.
Os cientistas procuram com a máxima cautela omitir o que realmente é a pesquisa, embora possa se aceitar a sinceridade dos envolvidos em aprender e desenvolver técnicas para salvar vidas. Em primeiro lugar, célula embrionária provém de um embrião que foi concebido por um espermatozoide e um óvulo. E esse modelo pode não ser um embrião humano hoje, mas chegarão a um, eventualmente, o que abre uma grande discussão ética.
A igreja católica já se manifestou nesses assuntos, a Congregação Para A Doutrina Da Fé publicou o documento Instrução Dignitas Personae – Sobre Algumas Questões De Bioética.
Essa pesquisa claramente desafia a concepção eticamente aceitável (DP 12 e 13), pois se pode pensar como um tipo de clonagem humana o que é inaceitável (DP 28 a 30), além de utilizar células embrionárias que podem não ter sido adquiridas de modo ético (DP32 e 34). Em suma, a igreja precisa urgentemente tratar o assunto com fieis e no diálogo inter-religioso para não perder o protagonismo.

Mario Eugenio Saturno é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano