José Renato Nalini
Parece mentira, mas não é. A ciência comprovou. Somente os terraplanistas e negacionistas continuarão a teimar. A insensata exploração do solo para cultivo e pecuária mudou o eixo da Terra. O geofísico da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul, Ki-Weon Seo publicou o resultado de uma pesquisa no periódico Geophysical Research Letters, demonstrando que os polos geográficos do planeta em que vivemos sofreram alteração.
Já era sabido que o campo gravitacional terrestre não é idêntico em todos os pontos da superfície terrestre. Onde existe mais massa, a gravidade é maior. Onde há menos, ela é menor. A Terra é dinâmica. Sofre degelos, esquentamento, a cada ano há uma natural oscilação. Essa inclinação é que se responsabiliza pelas estações: primavera, verão, outono, inverno.
O que o geofísico descobriu foi que a indiscriminada extração de água do subsolo está desequilibrando o eixo da Terra. O esvaziamento de reservatórios subterrâneos de água desequilibra aquilo que sempre funcionou, há milhões de anos. O processo de irrigação das plantações, os sistemas de bombeamento de água estão esgotando os aquíferos muito mais depressa do que a natureza pode repô-los. A água é finita, não renovável.
Ninguém parece preocupado com a abertura de poços artesianos clandestinos. Cada edifício que se constrói, já vem com a perfuração que, além de reduzir a capacidade do aquífero Guarani, ainda contamina essa água milenarmente acumulada no subsolo.
O trabalho do cientista coreano comprovou que a extração de água do subsolo, sozinha, produz um deslocamento de 4,36 centímetros ao ano do polo geográfico Norte. É uma causa humana que perverte aquilo que sempre funcionou. Todas as demais concausas também provêm de ação humana: barragens, perda de geleiros e de gelo na Antártida e na Groenlândia.
A continuar assim, o que acontecerá com a vida sobre a Terra? Se a oscilação aumentar, além do aquecimento derivado da emissão de gases venenosos, causadores do efeito estufa, parte do planeta poderá entrar em combustão espontânea. Isso é realmente possível? O futuro dirá, se a insensatez tiver paradeiro. O que é bastante discutível.
José Renato Nalini é reitor universitário, docente da pós-graduação e secretário-executivo
das Mudanças Climáticas de São Paulo