Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
Nós, os simples eleitores, que, mesmo com toda simplicidade, constituímos parte fundamental das eleições, temos o desconforto de nessa época assistir o embate dos pretensos candidatos. Além daqueles que consideramos viáveis, pululam no cenário os que só aparecem a cada quatro anos e, na maioria das vezes, não conseguem viabilizar a vaga para concorrer. Mas todos têm o direito de buscar o seu lugar ao sol. Os que conseguirem a candidatura e obter os votos no dia das eleições serão os novos prefeitos e vereadores a partir de janeiro do próximo ano. Os demais terão de esperar por mais quatro anos e, os mais ousados, poderão correr atrás da opção de candidatar-se a deputado em 2026.
Com quase 30 partidos regularmente estabelecidos, é comum o surgimento das mais variadas figuras querendo ocupar o cenário político. Isso ocorre em todas as localidades, desde as grandes capitais até os mais distantes grotões. E, além dos diretos interessados na disputa, ainda temos a interveniência dos cabos eleitorais de luxo. Deputados (estaduais e federais), senadores, governadores e até o presidente da República correm em socorro a seus aliados e pedem votos em seu favor na esperança de elegê-los e, daqui a dois anos – quando se renovarão os governos e as casas legislativas estaduais e federais – poderem contar com o apoio e o pedido de votos dos prefeitos e vereadores que ajudaram a eleger e mesmo daqueles que não se elegeram mas são gratos pela ajuda recebida.
A profusão de pretendentes aos cargos municipais – prefeito e vereadores – decorre do elevado número de partidos políticos. Cada partido pode apresentar um candidato a prefeito e vários a vereador, mas os pequenos não têm filiados suficientes para enfrentar uma tarefa dessa natureza. Por isso fazem alianças e lançam chapas compostas pela reunião de várias legendas. É daí que vem o raciocínio de que em vez de três dezenas de partidos, o mais indicado seria que os nanicos se reunissem conforme a ideologia que defendem e fizessem apenas um partido grande. Se assim fosse, teríamos dois, três, no máximo cinco partidos e menor movimentação eleitoral. Todos os que hoje tentam a vida pública poderiam fazê-lo, mas em vez de partir numa campanha, o fariam dentro dos partidos onde cada facção apresentaria seus concorrentes para a montagem da chapa a ser aprovada na convenção. Seria mais prático e menos oneroso. Haveria até economia de recursos públicos porque, todos sabemos, quem sustenta os partidos é o dinheiro do Tesouro, vindo dos impostos recolhidos pela população.
O excesso de partidos é flagrante. Se não houvessem obrigações a cumprir, não teríamos três dezenas, mas mais de cem agremiações. Isso porque existem mais de 70 pedidos de registros na Justiça Eleitoral, muitos deles certamente já caducos e sem possibilidade de um dia serem analisados. O próprio meio já se conscientizou da necessidade de enxugar. Tanto que hoje já é permitida a constituição das “federações partidárias”. Elas são constituídas por partidos que se unem durante um período eleitoral e têm a obrigatoriedade de atuarem em bloco durante os quatro anos do mandato conseguido, tendo a opção de se separarem se a experiência não for satisfatória. Além da federação, há também a possibilidade de fusão, que é definitiva.
Os mais experimentados observadores do movimento político registram o excesso de partidos e a falta de lideranças. Tanto que nas mais recentes eleições presidenciais tivemos o pleito polarizado entre dois candidatos, um de esquerda e outro de direita, e não houve um terceiro, supostamente de centro, que reunisse condições de enfrentar os outros dois. Agora, faltando ainda mais de dois anos para a eleição geral, encontramos diversas lideranças buscando decolar em voos políticos que os levem à condição de terceira via para bater de frente com Lula e Bolsonaro (ou quem este indicar se ainda estiver inelegível). Assim estão os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Júnior (Paraná), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e certamente ainda surgirão outros. Além do ambiente de disputa que se forma, ainda nos é colocada como prioritária a realização de uma ampla reforma eleitoral que torne o processo mais simplificado e seguro e tenha o condão de alavancar o surgimento de novas lideranças políticas em todos os níveis.
A conclusão de um processo eleitoral traz em seu bojo a satisfação dos vencedores (que são poucos) e a decepção dos perdedores que, num quadro partidário como o brasileiro, são numerosos. Assim sendo, é de bom alvitre que antes de entrar na disputa, o pretendente consulte humilde e sinceramente as suas possibilidades e, se não tiver confiança na sua viabilidade, não desista de contribuir para as mudanças e melhorias que você entende que o país, o Estado e o município requerem e você poderá participar, ajudando a eleger alguém que seja, na sua opinião, o mais adequado ao posto em disputa. Contribuir na vitória poderá ser mais satisfatório até do que vencer e indiscutivelmente melhor do que ser vencido.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)