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Desvio ou ladrão?

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Humberto Pinho da Silva

Anda o país (que digo eu?), e o mundo, preocupado com a corrupção, e é mal difícil de estripar.
Já o nosso Sá de Miranda, em carta a El-Rei, lamentava: “Onde há homens, há cobiça”.
E Diógenes percorria atarefado as artérias de Atenas, em busca de homens, e ao que se saiba faleceu sem os ter encontrado.
Já que estou em época de citações, trago aqui, novamente, o Sá de Miranda ao referir-se ao filósofo que ia de aldeia a aldeia: “Vou-me por aqui buscando/Entre tantos homens um/Neste vão trabalho ando/Inda não achei nenhum” – Poesias.
Nem eu acharia por mais voltas que desse à cidade, se por tontaria me dedicasse à tarefa e, muito menos, se andasse por gabinetes atapetados e climatizados, porque o dinheiro corrompe o mais honesto.
Mas sabem-me dizer o que é um ladrão?
Responde D. Francisco Manuel de Melo no “Escritório Avarento Apólogos Dialogais”, pela voz de corsário: Sendo levado à presença do Grande Alexandre, modesto pirata, que infestava as costas macedônicas, saqueando e pilhando, foi severamente advertido pelo Imperador.
Este repostou: “Não me maltrate, que tu e eu ambos temos um próprio ofício, mas com tal diferença: que a ti, porque roubas o mundo cercado de exércitos, te saúdam as gentes por monarca, e a mim, que com poucos companheiros faço pequenos danos me infamam de corsário!”.
Na verdade, quando o pobre, o insignificante, rouba, a sociedade, a mass-media apelidam-no de gatuno ou larapio; mas quando o rico, o importante rouba, é deslize e desvio, ou ainda, engano.
É a justiça do mundo! A bitola como somos avaliados e julgados.

Humberto Pinho da Silva é editor responsável pelo blogue luso-brasileiro “Paz”