Início Opinião Osasco tem a oportunidade de transformar o ensino público com a inclusão...

Osasco tem a oportunidade de transformar o ensino público com a inclusão do socioemocional

162
0

Suely Menezes
 
Osasco, na Grande São Paulo, está prestes a dar um passo muito importante. O município será beneficiado com a estruturação de um projeto de parceria público-privada (PPP) na área de educação infantil, via edital da Caixa Econômica Federal, fruto do chamamento público realizado pelo Fundo de Estruturação de Projetos (FEP-Caixa). O desafio, agora, será como aplicar esses recursos. É uma decisão estratégica e precisa ser muito bem pensada.
Acompanho há anos os rumos da educação pública no Brasil. Por isso, vejo esse movimento com esperança, mas também com senso crítico. Trata-se de um modelo que pode apoiar na transformação da rede municipal, trazendo ganhos importantes de eficiência e qualidade. Mas é preciso olhar além da infraestrutura e aproveitar essa oportunidade única para promover avanços profundos na formação integral de nossos alunos.
O projeto, como está desenhado hoje, prevê a atuação na construção, equipagem, manutenção predial, limpeza, vigilância, lavanderia e outros serviços de suporte às unidades escolares. São investimentos fundamentais, sobretudo em uma rede que há tempos enfrenta dificuldades para garantir ambientes adequados e seguros para o desenvolvimento infantil. Ao transferir para PPPs a responsabilidade por essas atividades de apoio, o poder público consegue aliviar as contas, algo que tem sido cada vez mais desafiador.
Contudo, se a meta é realmente agregar melhorias na educação pública, é preciso ir além. Estrutura é condição básica, mas não o suficiente. Este novo momento vivido por Osasco abre espaço para um debate mais profundo sobre o que, de fato, queremos oferecer às nossas crianças: um ensino focado apenas na alfabetização e nos conteúdos curriculares ou um projeto educacional que prepare para a vida, para o convívio, para o trabalho e para os desafios do século XXI?
Nesse contexto, é urgente incluir no debate um compromisso claro com o desenvolvimento de competências socioemocionais. A primeira infância, sobretudo, é um período sensível e determinante para a construção de habilidades que acompanharão o indivíduo por toda a vida. Trata-se de um investimento com retorno garantido, reconhecido por diversos estudos. Um dos mais amplos e respeitados é o conduzido pela Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL), nos Estados Unidos, que demonstrou que programas estruturados de aprendizagem socioemocional nas escolas resultam em melhorias significativas no comportamento dos alunos, na convivência em sala de aula e até no desempenho acadêmico. Alunos expostos a esses programas apresentaram aumento médio de 11 pontos percentuais em suas avaliações de rendimento escolar.
Competências como empatia, autocontrole, pensamento crítico e resolução de conflitos são cada vez mais exigidas em um mundo marcado pela complexidade, pela conectividade e pela necessidade constante de adaptação. A educação que queremos para as escolas públicas precisa ajudar nossas crianças a reconhecer e gerenciar emoções, estabelecer relacionamentos saudáveis, tomar decisões responsáveis e enfrentar adversidades com resiliência. Isso não se ensina apenas com livros e provas. Mas se constrói com experiências, com vínculos, com acolhimento e com a valorização da diversidade.
Trata-se de criar as condições para que a rede pública tenha, além da infraestrutura garantida, os meios e os recursos para colocar o desenvolvimento socioemocional no centro de seu projeto pedagógico. A PPP pode ser o motor que apoiará a transformação – desde que o poder público assuma a liderança desse processo com visão estratégica e compromisso social.
Osasco tem agora a chance de fazer história. Com planejamento, diálogo e foco no desenvolvimento emocional dos alunos, o município pode se tornar referência nacional em inovação educacional. Basta que o assunto seja tratado com a profundidade e a urgência que os tempos atuais exigem. Não se trata apenas de construir escolas, mas em ajudar os estudantes a se tornarem mais conscientes e preparados para os desafios do futuro.

 Suely Menezes é pedagoga com habilitação em Administração Escolar e Orientação Educacional pela Universidade Federal do Pará, mestra em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté. Atuou como conselheira nacional de educação e foi presidente da Câmara de Educação Básica do CNE até agosto de 2024