Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
Sou alguém que, mesmo indignado com os acontecimentos, não tento explorá-los politicamente em prejuízo de possíveis adversários. Esse procedimento tornou-se habitual no Brasil polarizado. Abomino as tentativas de colocar os problemas nas costas dos que não são simpáticos ao acusador e tentar livrar a cara dos seus preferidos, mesmo quando estes parecem carregados de culpa ou dolo. Os escândalos produzidos são contraproducentes, poucos importando a identidade dos supostos errantes. Em vez de “condená-los” midiaticamente ou pela comoção da sociedade, o correto e mais indicado é acionar polícia e justiça para a apuração das inconformidades comprovadamente ocorridas e, dentro do vasto ordenamento jurídico disponível, aplicar as penas cabíveis (não mais e nem menos).
Toda vez que irregularidades descobertas são usadas como munição contra partidos ou governantes emporcalham a imagem e, tentar destruir seus adversários estabelece-se a comoção popular e abrem-se as possibilidades para o processo judicial sobre o problema tornar-se carregado de justificativas – parte delas inverossímeis – que acabam por enfraquecer o caso e aliviar as penas ou até gerar possíveis impedimentos ou nulidades que levam ao abrandamento ou até à suspensão do castigo judicial imposto. Não é necessário enumerar exemplos, pois todo o país, indignado, os conhece e comenta no dia-a-dia.
Por conta da nefasta polarização entre esquerda, direita e tendências ideológicas intermediárias, os próprios políticos, tentando esquivar-se dos malfeitos cometidos pessoalmente ou pelo seu grupo, acusam os adversários e vice-versa. Isso levou a classe, já há alguns anos, a um nível de desprestígio nunca antes experimentado.
Os líderes políticos que almejam candidaturas em 2026 – quando o eleitorado será chamado a votar para presidente, governador, senador e deputados federal e estadual – já se encontram enrolados em processos judiciais e ainda poderão ter novos problemas decorrentes da guerra verbal e contumaz.
A política nacional e a vida dos políticos certamente só vão melhorar se a polarização deixar de existir. E poderão avançar ainda mais no dia em que os três poderes voltarem a observar o artigo 2° da Constituição, que os define como “independentes e harmônicos entre si”. O Legislativo fazendo as leis, o Executivo governando e o Judiciário guardando a Constituição e o ordenamento jurídico.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil)