Humberto Pinho da Silva
Em “Crime e Castigo”, diz Dostoieweky: “(…) Para se conhecer uma pessoa é necessário conviver com ela, tê-la observado cuidadosamente”.
Dificilmente, digo eu, se conhece verdadeiramente seja quem for, mesmo o nosso cônjuge, porque há segredos bem guardados, nunca revelados, hábitos e vícios, pensamentos doentios e desejos escondidos.
Bem dizia Raul Brandão, em “Humus”: “Em todas as almas (…) há um interior escondido”.
Há quem saiba encobrir com tanta perfeição, quem engane, com atenções que parecem sinceras, que ingenuamente acreditamos. Decorridos meses (anos?) é que descortinamos, atônitos, as dissimulações.
Já Goeth, em “Werther”, advertia: “Não é fácil uma criatura entender outra”.
Fui e amigo íntimo de condiscípulo. Trocávamos confidencias e realizamos aprazíveis passeatas, em conjunto. Bastou noivar com moça licenciada, da “alta”, para se afastar. Encontrei-o, um dia, acompanhado da mocinha, jovem graciosa, de boas famílias. Aproximei-me. Para meu espanto, disfarçou e continuou seu caminho.
Razões? Desconheço. Acanhamento? Vaidade? Talvez orgulho.
Muitos que se declaram nossos amigos, e os consideramos como tal, surpreendem-nos pelas atitudes e comportamentos, mormente após terem recebido benesses nossas. Pensam lá consigo: já não preciso dele para nada. Estou servido.
É falta de carácter e ingratidão. Admiramo-nos, então, como conseguiram enganar-nos.
Bem observou Goethe: “Cada dia vou notando que é tolice avaliar os outros por nós” – “Wether”.
É tolice e é errado, porque pensamos que os outros são honestos e sinceros – como nós – e não procuram amizade com segundas intenções.
Como andamos, quantas vezes, enganados.
Humberto Pinho da Silva é reponsávelpelo blogue luso-brasileiro “Paz”