Dr. Carlos Vaz
Quando se pensa em tabu associado ao câncer, o primeiro que poderia vir à mente é aquele relacionado à próstata. A glândula é pequena, do tamanho de uma noz, e está localizada abaixo da bexiga, bem próxima ao pênis. Mas é justamente nessa região que incide boa parte dos casos de câncer entre os homens. Contudo, isso não tem sido suficiente para despertar o alerta deles. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia, 51% dos homens nunca foram ao urologista.
A próstata ocupa o segundo lugar no ranking dos cânceres com mais casos entre a população masculina, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Estimativas também apontam que um em cada 6 homens tende a desenvolver algum tipo de câncer ao longo da vida. Os números brasileiros acendem um alerta que não pode ser ignorado: o câncer de próstata é comum e seu diagnóstico deve acontecer de forma rápida, em estágio inicial. Isso porque esse tipo de câncer tem uma característica que “joga contra” os homens: não apresenta sintomas enquanto é desenvolvido.
Por esse motivo, esperar os sintomas para procurar o médico urologista é correr o risco de encontrar a doença em estágios avançados, quando o tratamento já não é tão eficaz e as chances de cura são menores. Os graus avançados da doença podem implicar efeitos colaterais bastante indesejados, como a disfunção erétil. E é por isso que a vigilância do homem com relação à próstata deve começar cedo, pois quanto antes a doença for diagnosticada, menos invasivo será o tratamento e menores serão os efeitos colaterais permanentes que a doença poderá provocar.
A disfunção erétil, nesse caso, é evitável, sobretudo quando o tratamento pode ser feito utilizando técnicas minimamente invasivas, como as cirurgias robóticas. A negligência do homem é fator fundamental quando se pensa em atraso no diagnóstico dos casos, o que faz com que a campanha do Novembro Azul seja tão importante. É preciso que a população conheça os riscos e as peculiaridades que cercam o câncer de próstata – como a falta de sintomas – e percebam que a vigilância é o que pode salvar sua vida.
Mesmo os homens que não possuem histórico da doença na família devem fazer os exames de vigilância a partir dos 50 anos de idade. Já nos casos de histórico familiar, a recomendação é que os exames se iniciem por volta dos 45 anos. O pico da doença acontece após os 60 anos. E existe outro fator a ser considerado: homens negros possuem uma tendência ainda maior de câncer de próstata, bem como aqueles que sofrem de obesidade.
As estatísticas não mentem e minha experiência de consultório reforça: os homens não têm costume de ir ao médico de rotina. Pelo contrário, nota-se o mau hábito de esperar os sintomas aparecerem para procurar ajuda. Na urologia, esperar por sintomas tem um preço alto. A negligência pode custar a saúde. O medo é bem maior do que o tal constrangimento pelo exame do toque.
Em mais de 90% dos exames em pacientes que vão ao consultório pela primeira vez, os relatos são de surpresa pela rapidez com que a avaliação médica ocorre. Isso mostra como não apenas o tabu deve ser derrubado, mas também a crença de que o exame compromete a virilidade do indivíduo. É preciso combater o tabu que o assunto remete e salvar cada dia mais homens de uma doença cuja cura pode, sim, iniciar pela ponta do dedo.
Dr. Carlos Vaz é médico urologista e especialista em cirurgia robótica